Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
1970 |
Autor(a) principal: |
Molina, Maria Ignez Guerra |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240301-143309/
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Resumo: |
Neste trabalho foram analisados alguns aspectos de natureza social, psicológica e cultural da Migração Rural-Rural. Mais objetivamente, estudou-se a Migração dos Parceleiros do Projeto de Assentamento de Iguatemi, Estado de Mato Grosso, organizado e administrado pelo Distrito de Terras do Sul de Mato Grosso, pelo Ministério da Agricultura e pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (hoje Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Tratando-se de uma área nova, cuja população migrou de outras Regiões e Estados do País, ela pôde oferecer as condições essenciais para a pesquisa. Nesse esquema geral, o presente estudo perseguiu os seguintes objetivos específicos; a) Elaborar uma tipologia da Migração, com base no modêlo teórico proposto por Weber, para classificar a Ação Social; b) Utilizando essa tipologia, estudar as causas da Migração de migrantes rurais voluntários; c) Elaborar um critério para aferir o grau de mobilidade da população migrante; d) Estudar algumas características de natureza social, psicológica e cultural dos migrantes, relacionando-as, em seguida, aos diferentes graus de mobilidade. A informação básica analisada na pesquisa foi obtida através de entrevistas pessoais com os Parceleiros de uma amostra extraída, aleatoriamente, do universo de 95 "Unidades Agrárias de Trabalho e Produção" que constituem, em seu todo, as quatro Glebas do Projeto Iguatemi. Cada "Unidade Agrária" reúne de 6 a 12 parcelas, variando a área da parcela de 10 a 100 hectares, de acordo com a fôrça-de-trabalho da família. Foram entrevistados 165 Parceleiros, o que permitiu que a amostra representasse cêrca de 20% do total de Parceleiros do Projeto. Os dados foram coletados durante o mês de agosto de 1970. Em sua essência, a orientação teórica para o estudo foi obtida nas contribuições de Parsons, Shills, Weber e Germani. A análise dos dados obedeceu a uma abordagem predominantemente qualitativa, usando-se, também, a quantitativa para confirmação estatística das observações feitas. As principais verificações e conclusões dêste trabalho foram as seguintes: 1) A tipologia da Migração baseada no esquema teórico da Ação Social de Weber mostrou-se eficiente e adequada para a análise das orientações da Migração Rural-Rural; 2) O estudo das causas dessa Migração evidenciou duas situações bastante diferenciadas: (a) o abandono da comunidade de origem; (b) as Migrações subsequentes. Ademais, verificou-se uma nítida diferença na orientação da Migração na primeira situação, relativamente às Migrações subsequentes. O cômputo geral dessas situações sugeriu uma predominância de motivações racionais para a Migração, em confronto com as motivações Tradicional e Afetiva; 3) Fatôres ambientais e objetivos incidem sôbre os Sistemas Sociais, provocando uma situação que propicia o surgimento de correntes migratórias das áreas de emigração para as de imigração; 4) Fatôres de ordem psico-social determinam a percepção da situação pelo ator, induzindo, a nível de indivíduo, sua satisfação ou insatisfação com o Sistema e, provocando em seguida, sua acomodação à situação ou sua Migração em busca de gratificações carentes no atual Sistema; 5) O critério proposto para aferir o grau de mobilidade da população migrante, ou seja, a relação entre o número de Migrações e a idade do Migrante, mostrou-se válido no contexto desta pesquisa; 6) Como esperado para as populações rurais migrantes, a amostra é predominantemente constituída de pessoas extremamente jovens: 67% com menos de 20 anos de idade. A predominância, também, dos homens (56%) sôbre as mulheres (44%). O tamanho médio da família é de 7 pessoas, com 4 homens e 3 mulheres. Os índices de analfabetismo são bastante altos, isto é, 43% dos chefes de família e 59% de suas esposas; 7) A população do Projeto Iguatemi é constituída, em sua maioria, por antigos agricultores não-proprietários de terras. Entre êsses, destacam-se os assalariados temporários e permanentes, cuja mobilidade também se mostrou a mais alta. Em seguida, estão os arrendatários e parceiros, tanto em quantidade como em grau de mobilidade. Outra evidência é que a população estudada tem tradição eminentemente rural: 74% viveram exclusivamente da agricultura antes de virem para o Projeto. Observou-se ainda, que os Parceleiros que tiveram outras ocupações, além da agricultura, revelaram-se com maior grau de mobilidade; 8) A grande maioria das famílias, 72% possui menos de 4 equivalentes-homem de fôrça-de-trabalho. Tal verificação é, portanto, coerente com a composição etária das famílias estudadas; 9) Contrariando uma possível expectativa, a escolaridade do Parceleiro e de sua espôsa não se mostrou significativamente associada à sua mobilidade. A predominância da religião católica entre os Parceleiros é bastante acentuada (74%). O fator religião, porém, não se mostrou significativamente associado à mobilidade do Parceleiro. É interessante destacar que todos os Parceleiros da Amostra tinham em seu poder pelo menos um documento: a certidão de nascimento ou de casamento. Isto, aliás, vem contradizer uma situação frequentemente generalizada entre os Migrantes rurais. 10) Como esperado para populações com grande mobilidade, a participação social formal revelou-se muito pequena. Cêrca de 69% dos Parceleiros não tinham participado de nenhuma associação no "seu lugar". Considerando-se que "seu lugar" é aquêle onde o migrante tem maiores laços e raízes, é de se esperar que, nas demais comunidades em que êle viveu, sua Participação Social Formal tenha sido menor ainda; 11) Poder-se-ia esperar que a inexistência ou insuficiência de "Facilidades" (serviços) no "seu lugar" fôsse um entre os mais fortes determinantes da Migração. Verificou-se, porém, que muitos Parceleiros deixaram comunidades com 9 e mais facilidades em busca de uma área de colonização e, portanto, ainda, com menor número de facilidades básicas. Por outro lado, notou-se que, mesmo aquêles que viveram em comunidades dotadas de um grande número de serviços, pouco uso fizeram dêles, evidenciando assim uma possível marginalidade; 12) Relações interpessoais e predominantemente primárias revelaram-se o principal meio de comunicação para motivar a Migração. Isto aconteceu em 78% dos casos. Em contrapartida, foi evidente a pequena influência dos meios massais de comunicação na Migração considerada; 13) Pôde-se inferir, também, que a Migração Rural-Rural contribui para o afrouxamento de laços com a família extensa e com o "seu lugar". Haja visto que mais de 40% dos Parceleiros nunca voltaram aos "seus lugare". A êsse dado se somam os 36% que não foram capazes de identificar o "seu lugar". E contrariando generalizações correntes, apenas um dos entrevistados manifestou desejo de voltar; 14) Da análise do fator de natureza predominantemente psico-social, concluiu-se que, em relação à satisfação com o trabalho no "seu lugar", objetivou-se muito mais uma atitude de acomodação do que propriamente uma atitude de satisfação. De, outra parte, as razões de insatisfação parecem refletir a existência de uma situação injusta no que se refere às relações de trabalho no "seu lugar". Acrescenta-se ainda que, unanimemente, os Parceleiros manifestaram-se satisfeitos com o trabalho atual em Iguatemi, sendo a posse da terra a razão predominante para isso. 15) Além de se constatar mobilidade muito alta (60% dos Parceleiros residindo anteriormente em 5 ou mais municípios), confirmou-se na amostra o Padrão de Migração de outros Estados para São Paulo e Paraná. Entretanto, não foi confirmada a expectativa de Migração em pequenas etapas. 16) Os Estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo contribuíram com a maior taxa de emigração: 22%, 21% e 16% em números redondos, respectivamente. Este é um resultado que confirma e que se verifica frequentemente a nível nacional; 17) Embora provenientes de 15 Estados e de 4 Regiões do País, os migrantes apresentaram grande homogeneidade em suas características, mais gerais, destacando-se entre elas por exemplo: escolaridade, religião, idade e tradição rural. Assim sendo, poder-se-ia concluir que as possíveis diferenças entre migrantes e não-migrantes, se é que elas existem, deveriam ser objeto de nova pesquisa. |