Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2007 |
Autor(a) principal: |
Oliveira, Valdeci Batista de Melo |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8150/tde-01112007-150250/
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Resumo: |
O presente estudo volta-se para a construção estética do drama documental O Inferno (1967) de Bernardo Santareno. Esta peça tem por argumento outra peça, de fato encenada empiricamente nas barras de um tribunal do júri que, em 1966, acusa, julga e condena os réus Ian Brady e Myra Hindley, etiquetados pelas mídias por \"amantes diabólicos\". Ambos foram protagonistas de malfadados sucessos ocorridos na Grã-Bretanha, daquela época. Com zelo cruel, eles assassinaram o adolescente homossexual Edward Evans, de 17 anos, e duas crianças: uma judia Lesley Ann Downey de 10 anos e, outra negra John Kilbride de 12 anos. Que forças teriam, pois, motivado esse fatídico casal inglês a cometer tais atrocidades? Essa pergunta animou a enunciação das mídias inglesas, que exploraram à farta esses episódios no fito de noticiar espetacularmente os fatos empíricos. Assim, na medida em que as histórias sobre as perversidades macabras dos \"nascidos para matar\", Ian Brady e Myra Hindley, eram divulgadas, acendia-se a comoção e o clamor da opinião pública, que recobriu essas figuras com a película da monstruosidade. Esse processo de patemização ajudou a tingir os fatos empíricos com a coloração ideológica, que deles abstraiu o caráter histórico-social e circunstancial do fenômeno. Será, portanto, navegando a contrapelo da patemização midiática e, ao mesmo tempo, incorporando-o de forma paródica que Santareno reconstruirá, em O Inferno, o julgamento dos ilustres amantes Moors Murderers. Dessa maneira, um dos interesses deste estudo é compreender as relações estabelecidas entre o fato empírico e o processo de modelização semiótica por ele sofrido ao ser apropriado pelas mídias. Outro elemento a permitir a interpretação dessa apropriação - forte influenciadora da transformação do casal de amantes em mito na sociedade unidimensional - é a (re)contextualização crítica do mito de Orfeu e Eurídice, de modo que se buscará analisar essa (re)contextualização a partir da leitura dos MoorsMurderers em chave mítica, bem como a persistência desse topos literário na tradição artística ocidental. Por último, pretende-se estudar a construção estética da peça e suas raízes em determinadas convenções estéticas e coordenadas históricas, somadas ao seu cariz metateatral, considerando que os trabalhos do tribunal do júri são reconfigurados, em O Inferno, como uma encenação forense de um drama positivista/naturalista, que enreda e contém outras formas dramáticas, literárias e sociais. As chaves teóricas mestras para a realização deste trabalho são as teorias da linguagem (lingüístico-literária) do Círculo de Mikhail Bakhtin, especialmente no que concerne às concepções dialógica e social da linguagem, associadas aos conceitos de dialogismo, modelização semiótica, polifonia e carnavalização. Acrescenta-se, também, a esse escopo teórico alguns dos postulados teóricos de Theodor Adorno e Horkheimer, de Guy Debord e de outros que discutem a onipresença e o papel das mídias na sociedade unidimensional, assim como os postulados teóricos de Peter Szondi a respeito do drama como forma teatral. |