Educação inclusiva: para todos ou para cada um? Alguns paradoxos (in)convenientes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Silva, Kelly Cristina Brandão da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-29092014-134527/
Resumo: Podemos considerar que a inclusão escolar no Brasil tem sido propagandeada como um progresso da sociedade, um avanço em comparação com a histórica Educação Especial. O que se propõe discutir nesse trabalho é justamente o avesso desse discurso oficial. A fim de analisar as vicissitudes e contradições que se destacam no processo de implementação da Educação Inclusiva no Brasil, principalmente no que concerne ao retorno revigorado da lógica clássica da Educação Especial, assim como a supremacia do saber especializado, optou-se pela seleção e análise da legislação federal específica, na forma de leis, decretos, portarias e resoluções, além de documentos internacionais. Outro material escolhido para análise foi uma publicação da mídia dirigida aos professores, a revista Nova Escola (Editora Abril), no período de 1994 a 2012. Todo o material selecionado a partir da pesquisa bibliográfica e documental foi cotejado com alguns pressupostos psicanalíticos, com destaque para a teorização lacaniana dos discursos e também com reflexões filosóficas de autores expressivos, como Hannah Arendt e Walter Benjamin, primordialmente, os quais nos auxiliam a circunscrever certos traços característicos da contemporaneidade, sobretudo no que tange ao declínio da tradição e da experiência narrativa. Alguns (in)convenientes paradoxos são aprofundados, tais como, a histórica aliança entre Medicina, Psicologia e Pedagogia; a exigência de especialização na formação e atuação do professor inclusivo; o excesso de regulação protocolar nos laços entre professores e alunos, além da exacerbação da parceria entre escola e família. Ao longo da pesquisa foi possível evidenciar que a inclusão escolar no Brasil tem sido idealizada enquanto um imperativo, o qual obedeceria a um pragmatismo técnico que exacerba uma obsessão pelo outro. Incluir, nessa perspectiva, significaria apreender o outro, gerir suas ações, definir seu espaço e dar-lhe um nome. Ações de aproximação e conhecimento do diferente, as quais implicam em uma classificação minuciosa e detalhada. O aluno em questão, reduzido ao significante incluído, tornar-se-ia totalmente compreensível graças à captura e aprisionamento da sua singularidade por um discurso tecnocientífico. Outro aspecto bastante revelador aprofundado nessa pesquisa diz respeito à extrema valorização dos aspectos legais, os quais parecem mascarar tensões, anular divergências e, por vezes, calar os sujeitos envolvidos. Professores e alunos, os principais atores desse processo de inclusão, são falados através da legislação. Dessa forma, a tarefa educativa fica reduzida a diretrizes jurídicas e o aluno especial se cala para fazer falar o discurso médico implícito no discurso jurídico. Discute-se também a famosa e disseminada expressão para todos, enquanto um ideal estandardizado, homogeneizante e pretensamente harmônico e o termo para cada um, ou seja, a ânsia pelo protocolo perfeito, sob medida, o qual pressupõe uma correspondência direta entre O diagnóstico e A metodologia mais adequada, por exemplo. Em contrapartida, propõese ao final da pesquisa uma inflexão dessas duas expressões para todos e para cada um a fim de provocar a seguinte indagação: Seria possível uma educação que não aniquilasse a singularidade, ou seja, na qual cada um pudesse aparecer e que, ao mesmo tempo, propiciasse um solo comum para todos?