Ativismo e Sofrimento Psí­quico: as Mulheres Defensoras de Direitos Humanos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Prandini, Camila Prandini
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-10102024-173030/
Resumo: Este trabalho tem o objetivo de construir uma leitura possível sobre o sofrimento psíquico das mulheres defensoras de direitos humanos (DDHs) a partir de elaborações vindas do campo da psicanálise e, em especial, da traumatogênese Ferencziana. O termo \"defensoras de direitos humanos\" refere-se às mulheres que atuam pela promoção ou proteção dos direitos humanos, individual ou coletivamente. Em sua atuação política, as defensoras ou ativistas enfrentam diversos tipos de violência e relatam um grau elevado de exaustão e sofrimento psíquico. Para a produção de informações, foram realizadas entrevistas semi-dirigidas com três mulheres defensoras, duas mulheres negras e uma indígena, cujo conteúdo foi posteriormente analisado por meio do procedimento da Análise Interpretativa, de Frederick Erickson. A partir da teoria do trauma em Ferenczi, construiu-se uma leitura do desmentido dos fenômenos do racismo e do sexismo no contexto brasileiro, dialogando com algumas proposições de Frantz Fanon e Valeska Zanello. Buscou-se investigar o fenômeno do sofrimento psíquico das DDHs a partir de uma mirada interseccional, evidenciando o papel da interseccionalidade entre raça, gênero e classe na produção deste sofrimento. Foi possível observar: (1) a existência de uma relação entre o tema da atuação política das defensoras e a vivência de experiências traumáticas, (2) como se manifesta o sofrimento psíquico das DDHs, (3) que as defensoras sofrem novas violências durante sua atuação política e que essas violências são desmentidas e (4) que as mulheres encontram no ativismo uma legitimação do testemunho sobre as violências sofridas e uma possibilidade de agir em relação às estruturas sociais, fonte conflitual que lhes causa sofrimento. Considerou-se que não é o ativismo em si que cura, assim como não é o ativismo em si que provoca sofrimento e adoece. Constatou-se que, durante a sua atuação política, coexistem autorizações e desmentidos dos testemunhos das DDHs sobre as violências de que foram e são vítimas. A pesquisa conduziu à proposição de que esta situação, em que os testemunhos das defensoras são constante e simultaneamente autorizados e desmentidos, contribui significativamente na produção do sofrimento psíquico experimentado por elas.