Efeitos do canabidiol e do 7-Nitroindazole na resposta de medo condicionado contextual após exposição de ratos a um estresse intenso: envolvimento dos sistemas nitrérgico, serotoninérgico e canabinoide

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Vila-Verde, Carla
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17133/tde-08012020-105748/
Resumo: O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um transtorno incapacitante que pode se desenvolver após exposição a eventos estressantes e traumáticos intensos. A neurobiologia da doença ainda é pouco compreendida, mas parece envolver diversos neurotransmissores, como glutamato, GABA, serotonina (5-HT), endocanabinoides e óxido nítrico. Uma alteração importante observada em pacientes com TEPT é o processamento anormal de memórias aversivas, levando à persistência exacerbada destas (prejuízo na extinção), bem como generalização do medo. Atualmente, os fármacos de escolha prescritos para o TEPT são os inibidores seletivos de recaptação de 5-HT, como a paroxetina, entretanto, muitos, se não a maioria, dos pacientes não apresentam melhora significativa. Evidências pré-clínicas e clínicas sugerem que o canabidiol (CBD), derivado não-psicotomimético da Cannabis sativa, é eficaz em atenuar comportamentos relacionados à exposição a estressores, principalmente via facilitação da ativação de receptores 5-HT1A e CB1, podendo ser potencialmente utilizado no tratamento do TEPT. Alguns efeitos do tipoansiolítico, mediados por drogas que atuam via receptores 5-HT1A, parecem depender da inibição da enzima óxido nítrico sintase neuronial (nNOS). Além disso, o aumento da sinalização nitrergica parece induzir várias alterações em componentes do sistema endocanabinoide. Portanto, o estresse pode induzir alterações importantes e promover modulações entre esses três sistemas: nitrérgico, serotoninérgico e canabinóide no SNC. Nosso objetivo foi avaliar se administrações agudas ou repetidas (7 dias) de CBD e 7- nitroindazole (7-NI - um inibidor preferencial da nNOS) poderiam prevenir a sensibilização das respostas de medo condicionado e os prejuízos nos processos de retenção da memória de extinção induzidas pela exposição a um estresse severo. Nós também investigamos se o efeito CBD envolveria os receptores 5-HT1A e / ou CB1. Além disso, testamos se o comprometimento induzido pelo estresse no processamento das respostas de medo condicionado (MC) estaria associado a modificações no sistema NO. Para isso Ratos Wistar (260g-280g) foram expostos ao estresse prolongado único (SPS - Single ProlongedStress), um modelo experimental de TEPT, que consiste em expor os animais a estressores sucessivos: estresse de restrição (2h); nado forçado (20 minutos) e perda de consciência pelo éter (avaliados pela perda do tônus postural). Uma semana depois foram avaliadas respostas de sensibilização ao MC e prejuízos nos processos de retenção da memória de extinção. Foram analisados, no hipocampo ventral (HV) e região pré-limbica do CPFvm (PL-CPFvm), níveis da isoforma fosforilada da enzima nNOS (pnNOS) em diferentes momentos após o estresse. Além disso, 2-3 horas após SPS os animais foram tratados com veículo, Paroxetina (5, 10 e 20 mg/kg), CBD (2,5, 5 e 10 mg/kg; 30mg/kg para tratamento agudo) ou 7-NI (15, 30 e 60 mg/Kg). As injeções foram administradas diariamente durante 7 dias. 7-NI (15, 30 e 60 mg/Kg) e CBD (30 mg/kg) foram administrados de forma aguda. Num grupo independente de animais, o antagonista do receptor 5-HT1A, WAY100635 (0,3 mg / kg) ou o antagonista do receptor CB1, AM281 (0,5 mg / kg) foram administrados 30 minutos antes do CBD (5 mg/kg). Vinte e quatro horas após a última injeção do fármaco (ou 7 dias depois para os tratamentos agudos) os ratos foram submetidos ao procedimento de medo condicionado contextual (MCC; três choques elétricos nas patas, 0,35 mA / 2s). A sensibilização das respostas de MC e déficits nos processos de consolidação da mémoria de extinção foram avaliadas em duas sessões distintas nas próximas 48 h. Verificou-se um aumento nos níveis de pnNOS no HV 1h após SPS, e no PL-CPFvm após a última avaliação comportamental (10&deg;d - retenção da memória de extinção) (p <0,05). Sugere-se que essas duas estruturas modulam os efeitos do estresse em momentos diferentes. O SPS também foi capaz de induzir sensibilização das repostas de MC, aumentando o comportamento de congelamento na primeira re-exposição ao contexto aversivo (F (1,13) = 8,42, p <0,05) e prejudicou a retenção da memória de extinção (F (1,13) = 14,53, p <0,01). Esses efeitos foram atenuados pelo tratamento repetido (7 dias) com paroxetina (10 mg / kg) (p <0,05) e CBD (5 e 10 mg / kg) (p <0,05). Os efeitos do CBD (5mg / kg) foram abolidos pelo pré- tratamento com WAY100635 (0,03mg / kg) ou AM281 (0,05mg / kg). Curiosamente, uma dose única de 7-NI (30 e 60 mg / Kg) 2-3 horas após o SPS preveniu todas as consequências tardias do estresse avaliados 7 dias após o SPS. Além disso, decidimos analisar uma dose maior de CBD para investigar um possível efeito agudo. Descobrimos que uma única injeção de CBD (30 mg / kg) 2 a 3 horas após a SPS também evitou consequências tardias do estresse (p <0,05). Nossos resultados indicam que, em doses baixas, o CBD (5mg / kg) injetado sub-cronicamente (7 dias) é capaz de prevenir o aumento da sensibilização das respostas de medo condicionado, bem como atenuar os prejuízos nos processos de retenção da memória de extinção. Esses processos parecem acontecer via facilitação das neurotransmissões mediada por 5-HT1A e CB1. Além disso, uma única injeção de CBD, utilizando uma dose 6x maior do que a utilizada no tratamento repetido (30mg / kg), administradas após o SPS também foi capaz de evitar os efeitos tardios do estresse. Ainda, nossos dados sugerem que as mudanças comportamentais induzidas pelo estresse podem estar relacionadas a uma complexa modulação entre o HV e o PL-CPFvm, com modificações precoces e tardias, respectivamente, no sistema nitrérgico. Por fim, uma única administração de um inibidor preferencial da sintase neuronial do óxido nítrico (7- NI) injetada 2-3 horas após a SPS evitou todas as consequências comportamentais desencadeadas pelo estresse.