Qualidade dos alimentos e sua construção social: o sistema de inspeção municipal e as feiras dos produtores na aglomeração urbana de Piracicaba

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Silveira, Manuela Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-17072018-154055/
Resumo: A questão central de nosso estudo é compreender como são formadas as concepções de qualidade dos alimentos no âmbito dos mercados de proximidade, especificamente, nas feiras dos produtores. Esta pesquisa teve como referência uma mudança recente no setor agroalimentar, identificada principalmente entre países europeus de uma virada para a qualidade, o quality turn. Observamos um renascimento das feiras, seja por um fortalecimento da importância daquelas já existentes, ou pela criação de novas feiras na região da aglomeração urbana de Piracicaba. Analisamos dois estudos de caso de mercados de proximidade, identificando como estão organizadas e quais são valores que lhes são atribuídos. Com o mesmo intuito, analisamos as normas jurídicas que incidem sobre os dois casos, através do Sistema de Inspeção Municipal (SIM), no entendimento que estas regras também expressam acordos e concepções, os quais são socialmente construídos e disputados. Para tal utilizamos teorias como aquelas da criação do mercado auto-regulável, proposta por Polany (2012), do enraizamento dos mercados de Granovetter (2007) e dos movimentos de apropriacionismo e substitucionismo dos capitais industriais e financeiros, concebida por Goodman, Sorj e Wilkinson, (2008). A mobilização da teoria das convenções contribuiu sobremaneira para expressar as relações desse sistema, seus acordos e disputas através de suas convenções mobilizadas. Da mesma forma, o apoio nos trabalhos desenvolvidos por Storper (1997) e Stræt e Marsden (2006) foram essenciais para uma análise das convenções, em termos das qualidades dos alimentos. Os mercados de proximidade estudados, no caso as feiras de produtores de São Pedro e Rio Claro, representam sim espaços que permitem a construção de novas concepções em relação à qualidade dos alimentos. No caso de São Pedro, encontramos uma \'qualidade localizada\', onde a produção local, o conhecimento dos modos de fazer tradicionais, as receitas típicas e utilização de variedades nativas caracterizam a qualidade dos alimentos ofertados na feira. É uma qualidade com grande ancoragem em convenções domésticas e ecológicas, onde se misturam o cuidar da terra e aquele da família. Em Rio Claro, município com um perfil menos rural, ocorre um renascimento da produção local, tanto com produtores que sempre estiveram no setor quanto com \'novos agricultores\'. A qualidade encontrada ai é aquela de tipo \'especializada\', onde a diferenciação através da obtenção de selos de certificação estão se configurando como o caminho dessa feira. Assim, a qualidade do alimento processado é garantida pela especialização da produção e assegurada pelo SIM, implementado no município. Identificamos que o SIM, no caso específico dos estudos, não contemplam ou estimulam produções locais com qualidade diferenciada, reproduzindo sobremaneira convenções industriais levando a uma especialização das produções locais.