Sobre o retrato do filósofo na República de Platão

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Paula, Henrique Gonçalves de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-18102010-154729/
Resumo: A República ocupa lugar de destaque no conjunto da obra platônica tanto pela importância do tema de que trata e pelo teor das teses defendidas quanto pela diversidade de questões que aborda no desenvolvimento de seu argumento principal. Em sua mais famosa e influente obra, Platão define a justiça a partir do estabelecimento de uma analogia entre a alma humana e a cidade, mostrando-nos em que consiste esta virtude seja no âmbito particular da vida moral humana seja na vida política de uma cidade idealmente planejada. A obra apresenta inicialmente uma dupla linha de argumentação, tratando, primeiro, da definição da justiça na cidade para, então, poder compará-la e aplicá-la à concepção de justiça na alma humana. O primeiro clímax argumentativo é atingido ao final do livro IV quando a analogia é finalmente estabelecida e obtemos tanto a definição política da justiça quanto sua definição moral. Mas os afluentes moral e político da argumentação entrecruzam-se e desembocam ambos nos livros centrais da obra (V, VI e VII) quando a figura do filósofo passa a ser desenvolvida. Platão demonstra-nos que o filósofo é, ao mesmo tempo, o indivíduo virtuoso por excelência e, portanto, o modelo máximo individual de justiça, e também o único e legítimo líder político da cidade justa, além de elemento indispensável a sua concretização. Nosso trabalho tem por objetivo descrever e analisar o argumento principal dos livros centrais que legitima o posto supremo do filósofo na cidade justa, mostrando como as questões metafísicas e epistemológicas ocupam um papel fundamental na economia da obra. A problemática central da pesquisa concentra-se nos dilemas decorrentes da definição do conhecimento do filósofo que legitima seu posto na cidade. A pergunta fundamental que desejamos responder é: de que modo o conhecimento das Formas pode oferecer um saber prático suficiente e eficiente para a atividade política do filósofo? Avaliamos a hipótese de alguns comentadores de que o argumento de Platão guarda em seu interior um conflito entre a descrição do aspecto teórico do filósofo e seu aspecto prático, e que o elemento fundamental e final de sua formação, o conhecimento da Forma do Bem, é definido de um modo tão abstrato e distante do mundo concreto que não nos deixa claro como ele pode servir de paradigma para a atividade de governante do filósofo. A alegação geral é a de que o conhecimento das Formas e do Bem não fornece ao filósofo nenhuma vantagem com relação aos outros possíveis candidatos à administração dos interesses da cidade. O objetivo máximo de nosso trabalho é nos contrapormos a tal interpretação oferecendo uma hipótese alternativa de leitura do argumento platônico. Nossa concepção parte de uma interpretação distinta da natureza do conhecimento da Forma do Bem, entendendo-a como a compreensão da própria estrutura racional da realidade. Outro ponto chave de nossa leitura é a interpretação que desenvolvemos do conceito platônico de mímesis, peça indispensável para entendermos a razão de não haver nenhuma espécie de conflito entre o que seriam as descrições teórica e prática do filósofo.