Influência da poluição do ar no remodelamento miocárdico na doença de Chagas em modelo experimental

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Fonseca, Keila Cardoso Barbosa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5131/tde-17022022-180554/
Resumo: A doença de Chagas é uma importante causa de miocardiopatia e insuficiência cardíaca no Brasil. Promove disfunção miocárdica caracterizada por intensa fibrose a qual está diretamente relacionada a uma complexa cascata de eventos como inflamação, estresse oxidativo e apoptose. Da mesma forma, a poluição atmosférica leva a ativação dessas mesmas vias, intensificando as respostas do organismo frente a essa agressão. Nossa hipótese é que a poluição poderia amplificar o estresse oxidativo e a inflamação, levando a maior perda de cardiomiócitos com consequente aumento da fibrose miocárdica na miocardiopatia chagásica. Nosso objetivo foi avaliar o papel da poluição do ar no remodelamento ventricular na doença de Chagas experimental. Foram utilizados 100 hamster sírio fêmeas, divididos em 4 grupos (controle Ct, controle com Poluição Ct+P, Infectado Ch e Infectado com Poluição Ch+P). Os animais foram infectados com 105 formas tripomastigotas do Trypanosoma cruzi e expostos à poluição por inalação de material particulado, produzido pela queima do diesel. A fração do volume de colágeno intersticial do ventrículo esquerdo (FVCI-VE) e do ventrículo direito (FVCI-VD) foi determinada em cortes histológicos, corados com picrosirius red. A análise anatômica e funcional foi realizada por ecocardiograma. A avaliação da inflamação foi realizada por análise da expressão gênica, utilizando a técnica de RT-PCR em tempo real e análise proteica por ELISA (IL-10, TNF- e INF-). O estresse oxidativo também foi avaliado por expressão gênica (Nox1, Nox4, MnSOD e iNOS), avaliação da glutationa total, peroxidação lipídica e produção de ROS. Avaliamos a apoptose por expressão gênica (BCL2 e CASP3) e pelo método de TUNEL. Os resultados foram avaliados em 3 fases: aguda, crônica e casuística total. O acúmulo do colágeno intersticial foi maior nos grupos chagásicos em relação aos controles (VE e VD: p<0,05) na casuística total. Nas fases aguda e crônica observamos maior deposição de colágeno no VE do grupo Ch+P comparado ao Ct (p=0,044 e p=0,018, respectivamente). Não houve interferência da poluição nos grupos infectados. Na análise da geometria do coração na fase crônica mostrou maior diâmetro diastólico (DDVE) e sistólico (DSVE) do ventrículo esquerdo no grupo ChxCt+P (p < 0,05 e p < 0,05, respectivamente). Já a fase aguda mostrou maior dilatação do VE no grupo Ch (DDVE: Ch x Ct p=0,003 e Ch x Ct + P p = 0,013; e DSVE: Ch x Ct p < 0,05 e Ch x Ct+P p<0,05). Mais uma vez a poluição do ar não interferiu nessa variável. Os parâmetros da função sistólica do VE, como fração de ejeção (FE) e fração de encurtamento (D), não apresentaram piora na fase crônica (p=0,09 em ambos). Já na fase aguda observamos alteração desses parâmetros no grupo Ch comparado aos controles (FE: Ch x Ct e Ch x Ct+P p < 0,01 e D: Ch x Ct e Ch x Ct+P p < 0,05). Os parâmetros de função diastólica, tempo de desaceleração (TD p = 0,11) e tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV p=0,80), na fase crônica, não apresentaram alteração. Já a variável da relação E/A apresentou-se menor no grupo Ch (p=0,003). Na fase aguda, observou-se maior significância no grupo Ch+P em relação ao grupo Ct no parâmetro da relação E/A e TD (p < 0,05 e p < 0,01) e TRIV foi significativamente maior no Ch+P grupo comparado aos demais grupos (p=0,0006). Não houve diferenças na análise de fase aguda e crônica quanto ao índice de performance miocárdica. A avaliação da inflamação pela expressão gênica (IL-10, TNF- e INF-) foi maior nos grupos chagásicos, tanto na casuística total como na fase aguda. A expressão proteica dessas mesmas citocinas foi maior nos grupos chagásicos apenas na fase aguda. Não houve amplificação da expressão gênica e proteica influenciada pela poluição. A avaliação do estresse oxidativo pela expressão gênica (Nox1, MnSOD e iNOS) foi maior nos grupos chagásicos em comparação aos controles, tanto na fase aguda como na casuística total. A fase crônica não apresentou alterações significativas em nenhum desses genes. A avaliação da glutationa total bem como a peroxidação lipídica não apresentaram diferenças significantes. A análise da produção de ROS apresentou diferenças quando comparado o grupo Ch+P aos grupos controles na fase aguda e na casuística total (aguda: Ch+P x Ct p<0,01 e Ch+P x Ct+P p<0,05; total: Ch+P x Ct p<0,01 e Ch+P x Ct+P p < 0,01) e na fase crônica observamos diferenças entre os grupos chagásicos comparado ao Ct (Ch x Ct p=0,037e Ch+P x Ct p=0,028). Em nenhuma análise de avaliação do estresse oxidativo houve interferência da poluição no grupo infectado. Na análise da apoptose pela expressão gênica observamos que os grupos infectados apresentaram maior expressão do gene BCL2 e CASP3 tanto na fase aguda como na casuística total, sendo significante na comparação entre os grupos. Nessas 2 fases o grupo Ch+P apresentou maior expressão que o grupo Ch, com p marginal de 0,064 (total) e 0,054 (aguda) na análise de BCL2. A técnica do TUNEL apresentou maior quantidade de células apoptóticas no grupo Ch+P tanto nas fases total como na aguda, sendo que nessa última obtivemos 2x mais células apoptóticas entre Ch+P x Ch, sugerindo modulação da apoptose pela poluição. A curva de sobrevida demonstra alta mortalidade 62% dos animais infectados (Ch e Ch+P) nos primeiros 38 dias após infecção. Concluímos que a poluição do ar não aumentou a deposição de colágeno, não piorou a dilatação ou função ventricular, não apresentou alteração das vias da inflamação e do estresse oxidativo, e nem sequer aumentou a mortalidade nesse modelo de miocardiopatia chagásica. Houve possível modulação da via apoptótica pela poluição que, entretanto, não aumentou a fibrose miocárdica nos animais infectados.