Uma proposta de prática psicológica para casos de desaparecimento de crianças e adolescentes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Figaro-Garcia, Claudia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-26072010-123243/
Resumo: A gravidade do tema do desaparecimento de crianças e de adolescentes exige que o mesmo seja trabalhado de forma multidisciplinar uma vez que o índice anual de ocorrências no Brasil é de 40.000 casos/ano e 9000 casos no Estado de São Paulo. É imprescindível a atenção governamental para políticas públicas, a atenção acadêmica para o desenvolvimento de pesquisas e tecnologia, e, atenção clínica para o desenvolvimento de modelos de atendimento psicológico às famílias e aos desaparecidos quando encontrados. O objetivo geral desse trabalho foi descrever a criação de uma metodologia de prática psicológica oferecida aos familiares de crianças e de adolescentes desaparecidos e aos desaparecidos posteriormente encontrados que é executada em uma delegacia de polícia especializada na investigação de pessoas desaparecidas. Tal prática foi desenvolvida dentro de um projeto multidisciplinar que agrega diferentes metodologias para busca e identificação de desaparecidos menores de 18 anos. Na pesquisa foram descritas as etapas de planejamento desse projeto enfatizando a inserção e os efeitos da psicologia e da psicanálise em seu escopo multidisciplinar. O modelo clínico incluiu pelo menos 04 (quatro) entrevistas (uma semi-aberta e três abertas) e se utilizou o dispositivo analítico para levantar hipóteses sobre as prováveis razões para a ocorrência dos desaparecimentos configurando, portanto, um exemplo de psicanálise aplicada. Nas entrevistas semi-abertas foram utilizados questionários cujas respostas foram armazenadas em Banco de Dados. Os entrevistados assinaram Termo de Consentimento Pós-esclarecido. Os casos foram supervisionados e encaminhados para a rede psicossocial da cidade de São Paulo. A partir do referencial psicanalítico de orientação lacaniana foi realizada uma análise clínico-qualitativa de 16 casos-piloto atendidos pela pesquisadora e alguns casos por ela supervisionados. O mesmo referencial foi utilizado na discussão das questões multidisciplinares e dos efeitos da prática clínica no ambiente da delegacia. Os desaparecimentos analisados foram fugas de casa ocorridas principalmente a partir da entrada da puberdade e de forma repetida. Nas famílias foi observado principalmente, histórico de violência doméstica, de uso de drogas ilícitas, de alcoolismo, de prática de atos infracionais e de infrações penais. Os significantes mais utilizados pelos familiares para representar o desaparecido foram filho incômodo ou filho problema. A fuga de casa foi considerada um sintoma do desaparecido, sinalizando modos de gozo nas repetições. Foi possível observar aspectos da singularidade dos desaparecidos encontrados e entrevistados, pois alguns se identificaram com o lugar simbólico destinado pelo grupo familiar e utilizaram as fugas para manter essa posição. Outros lançaram mão da fuga justamente para ir contra o desejo dos pais e tentar encontrar um caminho pessoal. E, em alguns casos, a fuga de casa configurou uma saída para a sobrevivência psíquica da criança ou do adolescente. A clínica executada em uma delegacia marcou a diferença entre a escuta policial, de cunho investigatório, e a escuta analítica voltada ao particular de cada caso e às suas implicações (ou não) com o desaparecimento, possibilitando a abertura de um novo campo de trabalho ao psicólogo