Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
Melo, Jéssika Sonaly Vasconcelos Barbosa de |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-09042024-173830/
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Resumo: |
As mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelas atividades desenvolvidas no ambiente doméstico e, quando elas têm um filho com deficiência, são, em geral, as principais cuidadoras. As vítimas do surto de zika no Brasil que tiveram filhos com síndrome congênita, na qual a microcefalia é o principal sintoma, iluminam a presença marcante da atividade de trabalho no cotidiano doméstico. Tal fato endossa o debate acadêmico sobre o trabalho de cuidar, há muito pensado como algo desinteressante e que não requer nenhum talento específico. Na verdade, é uma atividade de trabalho complexa que demanda mobilização e inteligência para a sua realização. Esta tese objetiva analisar a atividade de trabalho do cuidado desenvolvida no cotidiano por mulheres que são mães de crianças com microcefalia. Para tanto, ancoramo-nos na tradicional literatura feminista que rompe com uma compreensão universal masculina sobre o trabalho ao expor a invisibilidade social sob a qual estão submetidas as mulheres que realizam inúmeras tarefas domésticas cotidianamente. Articulamos essa compreensão à perspectiva ergológica sobre o trabalhar, na qual a atividade de trabalho é compreendida para além da lógica do capital. A pesquisa deu-se por meio de diálogos com nove mães que são cuidadoras em tempo integral de filhos, em sua maioria, com deficiência decorrente da infecção por zika na gestação. Todas nordestinas, com média de 28 anos e em sua maioria negras e com baixa escolaridade. Como resultados, é possível observar que: (1) as participantes, em sua maioria, não compreendem a si mesmas como mulheres trabalhadoras, demonstrando que o conceito de trabalho ampliado ainda não foi bem absorvido por parte de sociedade; (2) o benefício assistencial, apesar de fundamental, amputa a possibilidade de realizarem um trabalho remunerado que melhore sua renda e de seus familiares, promovendo uma perpetuação da pobreza e da dependência; (3) o trabalho de cuidar possui normas, com práticas de cuidado ancoradas no saber popular e na medicina que norteiam a forma dessas mulheres lidarem com as demandas advindas do cotidiano. De modo que, a maternidade que convive com a deficiência possui particularidades que trazem uma conotação ainda mais normativa, uma vez que a relação com a saúde-doença é mais marcante para elas e os contatos com profissionais da saúde são também mais frequentes, ampliando e intensificando este trabalho; (4) as mães se engajam em um movimento constante de aprendizagem, por meio da experiência, do dia a dia, do convívio com outras mães, com mulheres mais velhas e profissionais, desenvolvendo um saber-fazer importante, um corpo-si, que faz uso de si mesma e de outros para dar conta do meio e sustentar a vida. |