A formação da personalidade em camponeses que fazem o uso comum da terra

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Struwka, Solange
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-07022020-111515/
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo investigar a formação da personalidade em camponeses que fazem uso comum do território. O estudo foi apoiado no referencial teórico-metodológico da Psicologia Histórico-Cultural. Fundamentalmente, utilizou as contribuições de Lev S. Vygotski para compreender o desenvolvimento do psiquismo humano. Para isso, partimos do pressuposto de que o cerne do processo de formação das características pessoais está na organização da vida real e concreta, nas relações estabelecidas com a atividade e nos sentidos a elas atribuídos, tendo a vivência como categoria funcional de análise. As estratégias metodológicas empregadas foram a realização de observações participantes e de entrevistas semiestruturadas com quatro camponeses faxinalenses de duas comunidades localizadas no Estado do Paraná e duas lideranças de movimentos populares que contribuíram na reorganização das comunidades pesquisadas. Acompanhamos as famílias no decorrer de dois anos e seis meses, período em que realizamos seis imersões em campo com permanência de duas semanas cada. Buscamos compreender quais nexos e determinações atuam na maneira pela qual os participantes se apropriam da natureza e organizam as relações de produção e reprodução da vida comunitária; os princípios orientadores de sua concepção de ser humano, sociedade e natureza, que garantem a continuidade da apropriação coletiva do território; e como aprendem e ensinam sobre a materialidade e imaterialidade da vida a partir das relações cotidianas. A análise dos dados obtidos revelou que o avanço da propriedade privada sobre os territórios de uso comum reconfigurou drasticamente a relação das famílias com a atividade produtiva até então desenvolvida. Desse processo, através da mediação de pessoas ligadas a pastorais, movimentos populares e partido político, os camponeses faxinalenses passaram a atribuir novos sentidos às experiências relacionadas à terra e a sua perda. Gradativamente, influenciados por atividades políticas e educativas, os sujeitos foram desenvolvendo novas formas de se relacionar com o seu contexto e lugar social, mudanças atreladas, fundamentalmente, à necessidade de realizar ações coletivas para defender seu território, elementos que não faziam parte dos conteúdos, práticas e ações presentes nos costumes e tradições vivenciados até então. Assim, evidenciamos como as inter-relações, as ações, os processos de formação política, unidos aos costumes de uso comum, produziram mudanças na concepção pessoal de mundo e na forma de se relacionar e agir diante das situações enfrentadas. Dos princípios ou regularidades fundamentais, identificados na concepção pessoal de mundo dos camponeses faxinalenses e que orientam a organização da atividade desenvolvida no território, destacamos: a centralidade da produção de bens de uso realizada a partir de dois pressupostos: se adaptar às exigências da natureza e suprir as demandas básicas da família e das demais pessoas que vivem na comunidade. Fundamentalmente, através dos princípios e regularidades orientadores de sua concepção pessoal de mundo, os camponeses faxinalenses consideram e respeitam o complexo sistema formado pela natureza e pelo ser humano (coletivo), assim como, têm as necessidades das famílias e da comunidade como centro de suas preocupações. Estas concepções e ideias incidem na forma pela qual organizam as relações sociais e a atividade produtiva no faxinal. Verificamos, ainda, que a aprendizagem e o desenvolvimento dos princípios orientadores da personalidade têm sua base nas relações interpessoais (família e comunidade), caracterizadas pelos sujeitos como próximas e de confiança. Estas relações, unidas à realização das práticas sociais (atividade), produzem vivências positivas e agradáveis nos entrevistados e mobilizam sua vontade, seu desejo e a busca por repeti-las e recriá-las. Apesar de não serem explicadas verbalmente pelos camponeses, esse fazer media a internalização dos objetivos, sentidos e motivos presentes nos costumes e tradições faxinalenses e transforma-os em constitutivos do intrapessoal. Assim, a partir das análises e indícios explicativos da presente pesquisa apontamos que o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, o domínio cultural da conduta e a formação da concepção pessoal de mundo, em última instância, formam a personalidade