Girando entre Princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Bueno, Michele Escoura
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-08012013-124856/
Resumo: Olha tia, eu rodo que nem a Princesa era o que dizia uma menininha anos atrás enquanto girava sobre seu próprio eixo até que sua saia atingisse o ar. Cinderela era a referência por ela destacada para construir uma corporalidade dita de princesa e daquela cena surgiu o desenho desta pesquisa. Há mais de meio século Cinderela vem encantando gerações de crianças e, hoje, ao lado também de Branca de Neve, Aurora, Bela, Ariel, Jasmin, Mulan e Tiana formam famoso time Princesas Disney. Inspirando produtos mundialmente consumidos, as Princesas entram no cotidiano infantil e se tornam presentes entre os referenciais para a construção da feminilidade entre as crianças. Buscando entender a forma pela qual as Princesas são lidas e significadas entre as crianças, durante um ano convivi com crianças de três escolas no interior do estado de São Paulo. A partir de uma etnografia comparativa, entre crianças de diferentes camadas econômicas, busquei as nuances entre as narrativas das personagens Disney e as possibilidades de leituras oferecidas por sua audiência. Iniciando pela divisão proposta pela Disney entre princesas clássicas e rebeldes, selecionamos Cinderela e Mulan como representantes destes dois perfis de princesas e levantamos uma análise em dois níveis: primeiro o nível textual e, em seguida, o da recepção. A centralidade do sucesso conjugal e do amor romântico na qual as narrativas se assentam para a constituição comum de uma princesa ecoou também nas leituras produzidas pelas crianças. Entretanto, para além do encontro com um príncipe encantado, as crianças, durante a recepção, apontavam para um outro e mais importante critério para a constituição de uma princesa: o estético. Mais do que um príncipe ao seu lado, para as crianças, a princesa precisava era de um belo vestido, uma coroa e de muita elegância. Assim, se podemos dizer que as Princesas são uma importante fonte para o repertório de gênero entre as crianças, é justamente pela associação entre beleza e glamour que elas se constituem enquanto ícones da feminilidade. Contudo, a interação das crianças com as famosas personagens da mídia não se limitava à posição enquanto audiência. De espectadoras a consumidoras, as crianças levavam ao cotidiano escolar uma imensa variedade de objetos estampados com as personagens conhecidas da TV e do cinema, faziam deles instrumentos para demarcação de suas identificações e colocavam as personagens em ação também no parquinho. Entre mochilas, etiquetas, ovos de páscoa, gira-giras, gangorras e tanques de areias, as personagens midiáticas eram inseridas no dia-a-dia das turmas e ao mesmo tempo em que evidenciavam as fronteiras entre as meninas e meninos, fornecia também brechas para construções e ressignificações dos contornos entre masculinidade e feminilidade, evidenciando, neste texto, a dimensão do gênero que, afinal, se aprende também brincando.