Do grito silenciado à palavra de (sobre)viventes: narrativas de vida de pessoas que tentaram suicídio

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Hwang, Esther
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-03072024-123501/
Resumo: A presente investigação teve como objetivo principal compreender a experiência do suicídio vivida e expressa por quem tentou se matar. O método utilizado para reconstruir as narrativas foi a abordagem qualitativa e o material foi colhido através de entrevistas abertas no formato híbrido (presencial e on-line), com enfoque em histórias de vida. Como critério de participação foram incluídas pessoas que tentaram suicídio e não tiveram a morte consumada, respeitando os devidos cuidados éticos exigidos. Foram realizadas três entrevistas e o material colhido foi gravado, transcrito e organizado segundo a análise temática proposta por Minayo (2000). Em seguida, foi elaborada uma discussão com enfoque na Psicologia Analítica, em especial à luz da teoria de James Hillman (1926-2011), amparada por diversos referenciais teóricos, abrangendo a transdisciplinaridade. As observações que constam no diário de campo foram, ainda, incluídas na análise, por comporem um instrumento de pesquisa que forneceu dados importantes. A complexidade das narrativas apontou uma riqueza de material e a partir das falas dos depoentes foram extraídos os seguintes eixos temáticos: Para que ficar? Descontinuidades e continuidades de si no cotidiano da vida; O apagamento do humano: retratos da humilhação social, invisibilidade, iatrogenia e o eu que se cala quando deveria gritar; Quem sou eu para o outro e o mundo? Solidão como falha no reconhecimento da alteridade, desenraizamento, depressão e não pertencimento; As vozes ressoam, o grito não mais tão silenciado ecoa e a palavra resiste. A natureza complexa do suicídio e o caráter multifacetado dos depoimentos apontaram a impossibilidade de elaborar uma única via de compreensão, sendo o sofrimento o denominador em comum entre as três narrativas, expresso de maneiras singulares e próprias. A variabilidade de elementos que compõem o movimento entre o viver e o morrer denotam que as tentativas de controle e o impedimento do suicídio são ineficazes. Compartilhar o vivido é um ato humano, urgente e necessário tanto para atender aos propósitos de elaboração pessoal da experiência do suicídio como os registros biográficos servem como fonte de dados sócio-históricos-culturais. Destaca-se a relevância de abrir espaços para que as vozes dos protagonistas apareçam acompanhadas de uma postura ético-política, para fomentar uma escuta sem julgamentos e preconceitos, respeitar a liberdade e a escolha de vida e de morte, e restituir dignidade e humanidade por meio do reconhecimento e validação dos modos próprios de viver e expressar o sentir à vida. Os cuidados referentes ao sofrimento devem ser elaborados conforme as necessidades das pessoas que tentaram suicídio. Observou-se a escuta como um elemento transformador que ofereceu companhia às experiências de solidão e desenraizamento. As narrativas conferiram uma perspectiva relacional que compreende o suicídio como uma experiência subjetiva articulada às relações com o outro e o mundo. Diante do escasso cenário de pesquisas que abordam o tema do suicídio expresso em narrativas em primeira pessoa, cabe reforçar a urgente necessidade de discussões no ambiente acadêmico, de modo que as histórias de vida não sejam silenciadas e esquecidas.