\'Eu quero cesárea!\' ou \'Just cut it out!\': análise crítica do discurso de relatos de parto normal após cesárea de mulheres brasileiras e estadunidenses à luz da linguística de corpus

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Fonseca, Luciana Carvalho
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-21052015-112432/
Resumo: No Brasil, a maioria absoluta das primíparas, deseja parto normal logo que engravida, porém, em mais da metade dos casos, os nascimentos são cirúrgicos. O fenômeno da falta de correspondência entre o desejado e o efetivamente alcançado não é exclusividade das mulheres brasileiras, mas ocorre em vários países do ocidente. Por meio da Análise Crítica do Discurso (ACD) de relatos de parto normal após cesárea (relatos de VBAC, do inglês, vaginal birth after c-section) à luz da Linguística de Corpus (LC), buscamos elucidar o problema social entre a falta de correspondência entre o tipo de experiência desejada e a experiência obtida. O discurso dos relatos de VBAC nos parece ser o discurso ideal para desvelar os elementos dessa falta de correspondência, pois abordam tanto a experiência da cesárea anterior indesejada e, em regra, mal indicada, como a do parto desejado e alcançado. O recorte teórico-metodológico adotado reúne a ACD (Fairclough, 1989, 1992; Chouliaraki & Fairclough, 1999; Fairclough, 2003); a LC (Stubbs, 1993, McEnery & Wilson, 1997 e 2003, Tognini-Bonelli, 2001) e a Análise Crítica do Discurso Baseada em Corpus (Baker et al 2008; Baker, 2013; Baker & McEnery, 2005; Flowerdew, 2014). Para o estudo, foi compilado um corpus eletrônico em inglês e português. O corpus é composto por textos escritos pelas mulheres que passaram pela experiência de VBAC e não inclui textos mediados (entrevistas e relatos escritos por terceiros não foram incluídos). O Corpus BRABA (Corpus eletrônico de relatos de parto de mulheres brasileiras, estadunidenses, britânicas e australianas) se divide, respectivamente, em quatro subcorpora: Corpus BRA (93 relatos, 250 807 palavras), Corpus EUA (101 relatos, 225 736 palavras), Corpus UK (97 relatos, 92 197 palavras) e Corpus AU (92 relatos, 200 639 palavras. Os primeiros dois subcorpora Corpus BRA e Corpus EUA foram selecionados para esta pesquisa que pretende investigar como as identidades e a experiência do nascimento são representadas nos relatos de mulheres brasileiras e americanas e por meio dessa investigação chegar a elementos que elucidem o problema social. O processamento eletrônico valeu-se do programa AntConc 3.4.0w (Anthony, 2012) e das ferramentas da LC (listas de frequência, lista de palavras-chave, linhas de concordância, padrões lexicais, etc.). A análise foi direcionada pelas palavras-chave que correspondem aos sujeitos envolvidos e pelos colocados mais estatisticamente relevantes dessas palavras. No Corpus BRA, foram analisadas: eu (colocados: desisto, renasci, mamava); bebê (encaixado, morrer/morresse, sexo, batimentos, alto); marido (companheiro, apoiou, cortou); doula (amada, obstetriz, querida, presença); médico (fofa/fofinha, mudar/mudei, cesarista, ginecologista, humanizada); anestesista; enfermeira (obstétrica/obstetra, cadê, soro, chamar); parteira (liguei/ ligar, doula, casa); obstetriz (doula, toque). No Corpus EUA: I (wish, protested, lamented); baby (pound, girl, boy); midwife (certified, asst/assistant, student, assist); doula (hired, friend, called); nurse (practitioner, tells, triage); doctor (office, seen, comes); anesthesiologist; husband (poor, run, children). A análise permitiu que fosse elucidado o problema social em ambas as sociedades e fossem reveladas diferenças discursivas e culturais. A falta de correspondência entre a experiência desejada e a alcançada é representada como tendo sido causada pela sucessão de eventos distintos. Contudo, em ambos os corpora, as experiências são representadas e a autoidentidade e as identidades construídas discursivamente sob a égide dos traços da modernidade, marcadamente, em relação à reflexividade exercida ideologicamente. Porém, a reflexividade é operada, não só como um modo de sustentar, mas principalmente como forma de transformar as relações de dominação.