Geoespeleologia, geomorfologia e geocronologia do sistema cárstico de São Desidério, Bahia, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Godinho, Lucas Padoan de Sá
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44142/tde-27072020-102310/
Resumo: Sistemas de cavernas epigênicas, formadas pela recarga da água meteórica, circulação freática relativamente rasa e descarga em níveis de base fluviais locais, abrigam em seu interior raros registros sedimentares e morfológicos ligados à evolução do relevo, do clima e da tectônica. Esta tese de doutorado possui como tema principal a evolução de sistemas cársticos e a espeleogênese, associando os processos formadores de caverna a evolução do relevo e do clima, tomando como exemplo uma área cárstica pouco estudada do Brasil central, localizada na bacia do rio São Desidério, oeste do estado da Bahia. Nessa região, o recuo erosivo das escarpas do Chapadão Central, recoberto pelo arenito cretáceo do Grupo Urucuia, controla a evolução de sistemas de cavernas no calcário neoproterozoico do Grupo Bambuí, sotoposto ao arenito. Os principais métodos aplicados incluem: caracterização geomorfológica do carste, descrição da geologia local, estudo da geologia e morfologia de cavernas e datação de sedimentos de caverna pelas técnicas 26Al e 10Be cosmogênicos, OSL e U-Th. Três alinhamentos de cavernas representativos da região foram estudados, denominados como João Rodrigues, Manoel Lopes e Cânion da Beleza. A morfologia dos condutos é caracterizada por redes dendríticas sobrepostas localmente por labirintos de enchentes, sendo que verticalmente esses se distribuem em dois níveis de caverna principais, situados em 555 e 525 m.a.n.m., formados em condição de estabilidade com o nível de base local (rio São Desidério) e interligados por cânions vadosos. A datação de terraços fluviais em cavernas permitiu identificar um importante reajuste desse nível de base entre 1 e 2 Ma, provocando um entalhamento vertical da ordem de 40 m, atribuído a causas tectônicas ou climáticas. As idades mínimas de desenvolvimento dos alinhamentos João Rodrigues, Manoel Lopes e Cânion da Beleza foram estabelecidas em 3,2 ± 0,2, 2,2 ± 0,2 e 1,0 ± 0,3 Ma, respectivamente, seguindo o modelo de evolução de cavernas em margem de platô, onde o recuo erosivo dos knickpoints dos rios principais em superfície induz a formação de sistemas de cavernas tributários progressivamente mais jovens para montante. Os conglomerados da Garganta do Bacupari despontam como registro sedimentar de caverna mais antigo do Brasil até o momento (3,2 ± 0,2 Ma). Foram identificados ciclos de agradação e entalhamento fluvial nas cavernas com frequência estimada em 100 ka, controlados respectivamente por tendências climáticas mais secas, com vegetação mais debilitada em superfície, e mais úmidas, quando a potência dos sistemas fluviais torna-se maior. A taxa de entalhamento fluvial sobre o leito rochoso do cânion vadoso, interligando os níveis superior e inferior, possui média de 53 m/Ma. As taxas de erosão pré-soterramento nas áreas-fonte sobre o arenito são menores e variam entre 3 e 33 m/Ma, indicando a maior resistência dessa rocha à erosão, se comparada ao calcário solúvel. A taxa de entalhamento sobre o leito sedimentar inconsolidado das cavernas possui média de 653 m/Ma. As taxas de recuo erosivo remontante dos knickpoints dos rios em superfície variam entre 4.397 e 1.687 m/Ma. Esses dados traduzem a velocidade do processo de evolução do relevo e são pouco comuns na literatura, sendo uma contribuição importante para a geomorfologia do Brasil central. Variações da elevação do N.A. em lagos de cavernas e dolinas, de 3 a 44 m, foram identificadas em todo o alinhamento João Rodrigues entre 2,3 ± 0,2 e 4,3 ± 0,05 ka (U-Th em espeleotemas), indicando mudanças climáticas importantes no holoceno. A evolução do carste de São Desidério é apresentada em estágios principais desde o início do entalhamento do vale do rio homônimo em superfície, estimado em 9,7 Ma (mioceno tardio) até o presente.