Como e por que revisar textos no ensino fundamental I? Ou: ensinando a ler criticamente, ensina-se a tomar as rédeas da escrita

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Morais, Deise Nancy Urias de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-30032017-162134/
Resumo: O presente estudo se inscreve na corrente de pesquisas sobre o ensino escolar da escrita, concebendo-a (a escrita) como trabalho humano, meio de ação, interação e constituição de sujeitos sociais e, ainda, como possibilidade de insurreição social. Compreendendo a escrita dessa forma, e assumindo que a escola pode ensinar a escrever com eficiência, defendo que um dos caminhos possíveis para esse ensino deve estar pautado no trabalho com diferentes estratégias de revisão textual, desde o Ensino Fundamental I. A revisão aqui é concebida como um tipo específico de leitura crítica. As elaborações teórico-metodológicas estão apresentadas da seguinte forma: a) inicialmente, marco minha posição em relação ao ensino de escrita nas escolas públicas, porque é esse o meu lugar de fala; b) apresento um panorama das pesquisas brasileiras sobre revisão de textos no Ensino Fundamental I; c) apresento o referencial teórico que sustenta este estudo: i) concepções de sujeito, língua e linguagem ancoradas no sociointeracionismo, baseando-me em Bakhtin (2009, 2011), Geraldi (1991, 1996, 2006, 2009, 2013), Koch (2006), Franchi (1977); ii) concepção de escrita como trabalho humano, baseandome no conceito marxista de trabalho (Marx, 2013), corroborado por Antunes (2013), e nos pressupostos do trabalho de escrever, tal como defendido por Franchi (1977) e Geraldi (2013), iii) diferenciação entre os termos correção, revisão e reescrita, enfatizando os motivos que me levam a adotar o termo revisão neste estudo, e delineando teoricamente a revisão como um tipo específico de leitura crítica (Lipman, 2001) e como possibilidade de trabalho metacognitivo (Marcuschi, 2007; Matêncio, 1994; Silva & Melo, 2007); v) ensaio sobre como, quando e por que ensinar revisão de textos a alunos de Ensino Fundamental I; d) apresento uma investigação sobre as possibilidades de ensinar a escrever no Ensino Fundamental I, considerando a revisão de textos como parte do processo de escrever. Para isso, trago textos produzidos por alunos de 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, em que quatro estratégias de revisão foram utilizadas, com o intuito de permitir aos alunos formas variadas de relação com a escrita (a sua e a de terceiros). e) Por último, analiso alguns textos que ilustram o que estou chamando de tomada da escrita pelos sujeitos, ou seja, escritas em que se percebe a presença de um sujeito que comunica, com alguma singularidade utilizando a escrita (Possenti, 2002, 2013). Metodologicamente, elegi, para a elaboração/organização deste trabalho, os pressupostos da pesquisa-ação (Thiollent, 1998). Como a coleta dos textos analisados se deu de forma naturalística, adoto como metodologia de análise o paradigma indiciário, proposto por Ginzburg (1989, 2002) e utilizado por Abaurre; Fiad e Sabinson (1997), Abaurre et al. (1995) e Possenti (2002) na análise de escritas escolares. Os textos selecionados e apresentados neste estudo serviram a dois propósitos: o de ilustrar as estratégias de revisão utilizadas pelos alunos, e defendidas aqui como meios de ensinar a escrever, e o de ilustrar indícios que indicam a tomada da escrita pelos alunos. A análise dos textos permite defender a revisão de textos como estratégia eficiente para o ensino da escrita, desde que a produção de textos seja tomada como resposta a objetivos comunicativos socialmente situados. Neste estudo, defendo que assumir um ensino que leve nossos alunos a tomarem a escrita para si é um ato de coragem frente a uma prova de fogo. Trata-se da coragem de trabalhar para que a escrita seja, para os sujeitos incididos por ela, uma possibilidade de incidir sobre o mundo, uma possibilidade de tomar as rédeas da História.