A religião distrai os pobres? Pentecostalismo e voto redistributivo no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Victor Augusto Araújo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-08012021-111833/
Resumo: A expectativa de que a desigualdade de renda produz pressão por redistribuição baseia- se na presunção de que indivíduos abaixo da mediana de rendimentos e com expectativa de ascensão social deveriam votar em partidos com propostas redistributivas. Curiosamente, evidências de contextos diversos sugerem que a demanda por redistribuição tende a diminuir à medida que a desigualdade cresce. O que nos remete à seguinte questão: por que pobres não votam em plataformas eleitorais redistributivas? Neste trabalho, proponho uma explicação para o caso brasileiro que considera o efeito da religião sobre o comportamento eleitoral dos indivíduos. Especificamente, argumento que as lideranças pentecostais atuam como cabos eleitorais (brokers) para mediar a relação entre candidatos e fiéis (eleitores) de baixa renda e inviabilizar a candidatura de políticos que não se identificam com os valores morais defendidos por este grupo evangélico. As evidências para as eleições presidenciais brasileiras (2002-2018) indicam fraco desempenho dos candidatos de esquerda entre os eleitores evangélicos pentecostais, resultado que contrasta com o bom desempenho desses mesmos candidatos entre eleitores católicos e evangélicos tradicionais. Também investigo o efeito da transição religiosa - aumento dos evangélicos pentecostais em detrimento dos cristãos católicos - sobre a votação do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido de esquerda mais competitivo, com maior capilaridade nos municípios brasileiros, maior representação no Congresso Nacional e que logrou sucesso eleitoral em quatro eleições presidenciais consecutivas entre 2002 e 2014. Os resultados sugerem melhor desempenho dos candidatos petistas em eleições presidenciais nos municípios com predominância católica, resultado que se mantém mesmo quando controlado o efeito exercido pela região Nordeste (região majoritariamente católica). Embora, à primeira vista, a transição religiosa seja um fenômeno meramente demográfico, a reconfiguração dos setores religiosos da sociedade brasileira possui consequências eleitorais importantes. Os achados deste trabalho também indicam que o pentecostalismo afeta a resposta dos eleitores pobres às políticas de redistribuição de renda. O aumento de bem-estar induzido pelo Programa Bolsa Família (PBF) produziu retornos eleitorais para o PT apenas entre os beneficiários não-pentecostais e nos locais com alta concentração de pobres católicos. Esses resultados são robustos e se mantêm em diferentes especificações utilizando dados agregados e evidências de nível individual e se mostram consistentes mesmo quando confrontados com mecanismos explicativos alternativos. Em conjunto, as evidências apresentadas neste trabalho ajudam a explicar porque eleitores de baixa, em contextos com alta desigualdade, podem não votar por redistribuição de renda.