Relações de diferença no Brasil Central: os Mebengokré e seus outros

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Cohn, Clarice
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-15042024-153103/
Resumo: Com base em extensa pesquisa com os Xikrin do Bacajá (Pará), esta tese discute os regimes de abertura para o Outro dos Mebengokré. Parte-se de uma análise de narrativas que tematizam a passagem de Mesmo a Outro ou seu inverso, para elucidar as relações de diferença que criam Mesmos e Outros, e essas posições relacionais. Como possibilidades lógicas essas passagens não constituem problema: este se configura na indefinição da posição que se ocupa a cada momento. Busca-se então elaborar as condições dos processos de identificação e diferenciação. Discutem-se as modalidades de preensão e o que se preende, e demonstra-se que com isso se realiza a construção de Mebengokré em pessoas, relações e coletivos. Demonstra-se assim que aquilo que permite esta construção é constantemente produzido e enriquecido a partir de um sistema constituído por relações pautadas por troca, guerra, xamanismo e caça, ou pela invenção e inovação, que mantêm não só a existência, mas principalmente a potência criativa de nomes e adornos, cultivares e carne, cantos e rituais com que se criam novas pessoas mebengokré. Parte-se então para uma discussão de como essas relações se dão, especialmente as relações guerreiras e de troca. Relatos de expedições guerreiras ilustram a produtividade da guerra, mas sua ausência é então tematizada, já que a situação contemporânea em que vivem os Xikrin é a da \"pacificação\", do estabelecimento de relações pacíficas com o Estado que se estendem a todos e leva à abolição da guerra em seu sistema de relações e preensão. Abordando então o processo de pacificação e as relações contemporâneas por ele estabelecidas, argumenta-se que o problema não está na ausência da guerra, que em certo nível pode ser substituída pelas demais modalidades de preensão, mas na interrupção da alternância entre guerra e aliança, entre inimizade e amizade, que garanta ao ) mesmo tempo a produtividade dessas relações de diferença e a manutenção da diferença. Conclui-se que o desafio atualmente enfrentado pelos Xikrin consiste em evitar a indiferenciação e a diluição da diferença, e portanto a impossibilidade de criar novos mebengroké, ou, como apontam as narrativas, a possibilidade de criar apenas versões enfraquecidas de Mebengokré. Tendo-se indicado o valor da guerra, as modalidades de preensão contemporâneas e as respostas a esse dilema atual são assinaladas e examinadas