Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Bandeira, Manuele
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-05042017-134159/
Resumo: O objetivo deste estudo é apresentar uma reconstrução da fonologia e do léxico do protocrioulo do Golfo da Guiné (PGG). O cenário de surgimento do PGG remonta ao período de colonização portuguesa na ilha de São Tomé, no fim do século XV e no começo do XVI, quando o contato entre populações africanas transplantadas à ilha e colonizadores lusos -- provocado pelo povoamento da região -- resultou na formação de uma língua crioula de base lexical portuguesa, o PGG. Após a formação do protocrioulo, deu-se início à separação geográfica de seus falantes que, outrora alojados em São Tomé, por um lado, são transplantados da ilha, e, por outro, fogem dos engenhos, formando quilombos. Assim, na ilha do Princípe, com a leva de transplantados recém-chegados, o PGG se ramifica em lung\'ie, de modo semelhante, na ilha de Ano Bom, o PGG se desenvolve, transformando-se em fa d\'ambô. Em São Tomé, por sua vez, os falantes de protocrioulo se dividem entre aqueles que ficaram nos núcleos de colonização, onde surge o santome, ao passo que a comunidade quilombola se torna o cenário da especiação do PGG no angolar (FERRAZ, 1974, 1979; SEIBERT, 2004; HAGEMEIJER, 2009). Seguindo os princípios do método histórico-comparativo da Linguística Histórica (THOMASON & KAUFMAN, 1988; KAUFMAN, 1990; HOCK, 1991; FOX, 1995; CROWLEY, 1997[1992]; CAMPBELL, 2004[1998]), foi elaborado um corpus a partir de um conjunto de itens pertencentes ao léxico comum do santome, lung\'ie, fa d\'ambô e angolar, as línguas-filhas do PGG. Contudo, devido a lacunas nas descrições dessas línguas, foi necessário investigar seus sistemas fonológicos de tal modo que este trabalho, devido à sua abrangência e escopo, constitui também uma contribuição ao estudo de suas fonologias. À vista disso, a reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo tem como base itens de suas línguas-filhas contemporâneas. Por conseguinte, o estudo se baseia nas fonologias das línguas-filhas e na análise de 536 conjuntos de cognatos, obtidos da literatura e da coleta e reunião de cerca de 2000 itens lexicais. Adicionalmente, apresentamos uma descrição e análise dos processos fonológicos observados no cotejo dos conjuntos de cognatos, tendo em vista que o esquadrinhamento de tais processos pode lançar luzes sobre as características estruturais da fonologia do protocrioulo a partir dos reflexos nas línguas-filhas. Assim, o sistema consonantal do PGG é composto por dezoito consoantes (*p, *b, *t, *d, *k, *g, *f, *v, *s, *z, *m, *n, *ɲ, *r, *l, *ʎ, *w, *j) e o sistema vocálico, por seu turno, constituído por sete vogais orais (*i, *e, *ɛ, a, *ɔ, *o, *u). O sistema acentual do PGG era prevísivel e sensível ao peso silábico. Portanto, o acento se fixava na penúltima sílaba em palavras nominais (ex.: *\'blasu \'braço\'), todavia, deslocava-se para a última quando a sílaba era pesada (ex.: *bɔ\'tɔN \'botão\'). Verbos apresentavam acento na sílaba final (ex.: *be\'be \'beber\'). Com efeito, os processos fonológicos descritos nas línguas-filhas oferecem evidências para a reconstrução lexical das protoformas. Dessa maneira, a reconstrução do PGG demonstra que a configuração atual das línguas-filhas provém da interação entre o quadro linguístico inicial do protocrioulo em conjunto com uma série de fenômenos fonológicos que atuaram no cenário de especiação.