Contribuição ao estudo metalogenético do depósito de ouro de Salamangone, Distrito Aurífero de Lourenço, Amapá

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2002
Autor(a) principal: Nogueira, Sônia Aparecida Abissi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44133/tde-14102013-110700/
Resumo: O Distrito Aurífero de Lourenço, localizado na região centro-norte do Estado do Amapá, insere-se na Província Geocronológica Maroni-Itacaíunas, de idade Paleoproterozóica, onde ocorrem rochas supracrustais que foram afetadas por metamorfismo de alto grau e parcialmente migmatizadas, bem como complexos cálcio-alcalinos. O depósito de Salamangone hospeda-se em granitóides de composição tonalítica a granodiorítica, de caráter cálcio-alcalino, metaluminosos a levemente peraluminosos. Exibem concentrações relativamente elevadas de LILE e TR leves e baixas taxas de Nb, Ta, Ti e Zr, indicando que teriam sido gerados em ambiente de arco vulcânico. Análises U-Pb (zircão) em tonalito forneceram idade de cristalização de 2,16Ga, enquanto dados de Sm/Nd indicam idades modelo (\'T IND. DM\') da ordem de 2,34Ga (granodiorito) e 2,24Ga (tonalito), com valores positivos de \'\'épsilon\' IND. Nd\'(\'T IND. DM\'), +2,88 (granodiorito) e +3,02 (tonalito), permitindo interpretar que os protólitos desses granitóides foram diferenciados diretamente do manto, com pequena residência crustal, e estariam relacionados a arco juvenil Paleoproterozóico. A isócrona de referência Rb/Sr (rocha total) dos granitóides apontou uma razão inicial em torno de 0,702, indicando uma fonte mantélica (juvenil) para o magma gerador dessas rochas, corroborando os dados de geoquímica. A mineralização aurífera consiste em um sistema de veios de quartzo epigenéticos, enriquecidos em Au e As, controlado por uma zona de cisalhamento dúctil-rúptil. O sistema filoniano compreende três corpos principais, designados de Capa, Principal e Lapa, considerados como sendo veios de cisalhamento ou veios em falhas, tipificados por uma estrutura laminada ou em ribbon, a indicar episódios repetidos de fraturamentos e deposição mineral. A paragênese dos veios comporta 2 fases principais de mineralização: a Fase I, de maior deposição de quartzo, associada a processos de interação rocha-fluido, que provocou a sulfetação intensa na rocha tonalítica encaixante, e, predominantemente, em ribbons dentro dos veios, originando arsenopirita, lollingita, pirrotita e calcopirita, ressalvando-se que o ouro ocorre, principalmente, nos limites da arsenopirita e lollingita. Esta fase de mineralização se formou num intervalo de temperaturas, entre 400° e 565°C, estas calculadas por meio do geotermômetro arsenopirita. Datação Pb/Pb em cristais de arsenopirita desta Fase I forneceram uma isócrona Pb-Pb de referência de 2002 \'+ OU -\' 61 Ma e a composição isotópica sugere um reservatório crustal mais profundo para o Pb, entre as curvas, de evolução da crosta superior e de ambiente orogênico; a Fase II de mineralização constitui o episódio principal de deposição do ouro. Este ocorre sob a forma livre e associado à arsenopirita, pirita e galena e resultou de processos de remobilização, a partir de soluções aquosas de alta salinidade, atuantes ao longo da zona de cisalhamento. Os processos de alteração hidrotermal envolveram, principalmente, silicificação, sulfetação, saussuritização e cloritização da rocha tonalítica encaixante, desenvolvendo uma zona distal com pouca influência da mineralização, e uma zona proximal onde o balanço químico indica ganhos acentuados em As e Au, com pequena participação de MgO e CaO e perdas de \'Al IND. 2\'\'O IND. 3\', \'K IND. 2\'O e \'Na IND. 2\'O. Inclusões fluidas primárias, contendo soluções responsáveis pela Fase I de mineralização, não foram preservadas, tendo sido destruídas por vários episódios superpostos de deformação, responsáveis pela grande quantidade de planos de inclusões fluidas secundárias, observados nas amostras de quartzo. Uma solução aquosa complexa, contendo Ca \'+ OU -\' As(?), extremamente salina, aprisionada em inclusões fluidas, contidas em um conjunto de trilhas com direção entre N5° - 35°W, pode ter sido responsável pela remobilização e precipitação do ouro primário, durante a Fase II de mineralização. A recorrência de episódios de deformação com aporte e circulação de novos fluidos dentro da zona de cisalhamento, que hospeda o depósito de Salamangone, é demonstrada pela presença flagrante de soluções, essencialmente aquosas e com salinidades variadas, que indicam um amplo processo de mistura, envolvendo um fluido extremamente salino que evolui para termos com composições de salinas cada vez mais baixas. A origem dessas soluções pode, provavelmente, ser atribuída a uma mistura de salmouras profundas de natureza metamórfica, com fluidos hidatogênicos. Os dados isotópicos, disponíveis para a área de Lourenço e regiões vizinhas, na Guiana Francesa e Guiana, sugerem um modelo de evolução crustal geodinâmico, baseado no desenvolvimento de um arco magmático cálcio-alcalino, entre 2250 e 2000Ma. Este fato pode ser interpretado admitindo-se a subducção de uma litosfera oceânica, pré-colisão, entre massas continentais representadas, à época, pela Província Central Amazônica (Bloco Carajás-Iricoumé) e pelo Craton do Oeste Africano. Os períodos mais importantes de formação de depósitos de ouro orogênicos do Paleoproterozóico correlacionam-se, muito bem, com os episódios de crescimento da crosta continental juvenil, notando-se que os eventos de concentração de ouro se posicionam entre 2,1 e 1,8 Ga, incluindo a geração de importantes depósitos nos cratons do Oeste Africano e Amazônico e no Orógeno Trans-Hudsoniano (Goldfarb et al. 2001). Deste modo, Salamangone constituiria um depósito aurífero orogênico mesozonal, originado durante processos de deformações compressional a transpressional, em orógenos de acresção, associados à margem convergente Paleoproterozóica.