A literatura sob rasura: Autonomia, neutralização e democracia em J. M. Coetzee e Roberto Bolaño

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Pinheiro, Tiago Guilherme
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-03112014-114116/
Resumo: Não é raro nas produções de J. M. Coetzee e de Roberto Bolaño que a prática artística converta-se em exercício de terror e violência. São constantes as situações em que a construção literária e da literatura produz modos específicos de autoritarismo, esquecimento e injustiça. Tais atos provocam um abalo enunciativo nos textos que os narram, gerando um questionamento sobre sua própria legitimidade (estética, ética, política) e a do campo discursivo ao qual estão associados. Para compreender a situação apresentada e enfrentada por essas obras, esta tese recompõe os percursos históricos por elas traçados. A começar por genealogias da literatura e de sistemas literários, que se entrecruzam, sobrepõe-se ou apropriam-se do passado colonial, do nazismo, das ditaduras latino-americanas e do apartheid, tal como indiciam Foe e La literatura nazi en América. Em seguida, nossa rota se detém sobre os períodos de transições que marcaram tanto a África do Sul como o Chile de finais do século XX, nos quais processos de verdade e justiça acabam se revertendo em casos de neutralização da memória e da linguagem, ficcionalizando a violência do passado em troca da legitimação da nova ordem discursiva do presente, na qual o literário teria um lugar próprio, tal como ocorre, por exemplo, em Nocturno de Chile. Por último, abre-se o presente democrático a partir do qual todos esses livros são narrados, em que a literatura se converte no produto mais bem acabado de um regime de oferta da palavra e de administração da multiplicidade, sob a forma do direito e da promessa do direito. Assim se configuram, por exemplo, Elizabeth Costello ou Los detectives salvajes, sem, no entanto, deixarem de esboçar uma fuga desse horizonte, em busca de outros mundos, outras formas possíveis de partilhar a linguagem. Nessa trajetória, iremos rever importantes conceitos e valores que estão intimamente ligados a essa prática simbólica tais como autonomia, liberdade, memória, democracia, entre outros, para que possamos compreender em que condições a literatura pode se tornar indesejável ou mesmo repudiável, tais como conjecturam esses autores