Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, do uso da mirtazapina versus megestrol para o controle da anorexia-caquexia em pacientes oncológicos em cuidados paliativos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Almeida, Olga Laura Sena
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17138/tde-03022023-105137/
Resumo: INTRODUÇÃO: A anorexia-caquexia associada ao câncer é uma síndrome insidiosa que tem um impacto importante sobre a qualidade de vida do paciente, mas também está associada a uma redução significativa da sobrevida. Apesar da sua importância clínica, permanece como uma condição amplamente subestimada e não tratada. Faz-se necessário o investimento em estudos que possam contribuir para o tratamento racional e eficaz dessa condição clínica. A mirtazapina tem um especial potencial terapêutico por ser um fármaco bem tolerado, com poucos efeitos adversos e com ação orexígena bem conhecida na prática clínica. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da mirtazapina em comparação ao megestrol como medida farmacológica no manejo da síndrome anorexia-caquexia relacionada ao câncer em pacientes em cuidados paliativos. MÉTODOS: Trata-se de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado, que envolveu 52 pacientes oncológicos com síndrome anorexia-caquexia em cuidados paliativos. Os voluntários foram randomizados para receber mirtazapina 30 mg ao dia ou megestrol 320 mg ao dia e foram avaliados longitudinalmente por um período de oito semanas. O desfecho primário foi o efeito da mirtazapina comparada ao megestrol sobre a anorexia e ganho ponderal e os desfechos secundários foram a tolerância e segurança da mirtazapina e seu efeito sobre a composição corporal, capacidade funcional, nível de atividade física, consumo alimentar e qualidade de vida dos voluntários envolvidos. Em todas as comparações, a probabilidade de erro de primeira espécie (alfa) foi mantida em 5% (p<0,05). RESULTADOS: Foram elegíveis 239 pacientes, dos quais 52 foram randomizados. A média de idade dos voluntários foi de 65,8±8,4 anos e houve um discreto predomínio de homens (51,9%). Com relação aos desfechos primários, houve melhora do apetite em 92% dos voluntários do grupo megestrol e em apenas 56% do grupo mirtazapina em 60 dias após a intervenção (p=0,007). Porém, em 30 dias, não houve diferença entre os grupos em relação ao apetite (p=0,236), com melhora do apetite em 72% dos voluntários do grupo megestrol e em 67% dos voluntários do grupo da mirtazapina. Na avaliação do peso, houve melhora em 52% dos voluntários do grupo megestrol e em apenas 38% dos voluntários do grupo mirtazapina em 30 dias após a intervenção (p=0,040). Porém, essa diferença não se manteve após 60 dias, com manutenção ou melhora do peso em 50% dos voluntários de ambos os grupos (p=0,166). Na subanálise realizada por sexo, observou-se diferença na resposta terapêutica. Apesar da melhora no apetite ter sido mais evidente com o megestrol em ambos os sexos, somente as mulheres apresentaram benefício com o uso da mirtazapina (OR 25,09, IC95% 7,05- 89,31, p<0,01 em 30 dias; OR 51,93, IC95% 8,74-308,39, p<0,01 em 60 dias). Além disso, houve ganho de peso no grupo de mulheres que recebeu mirtazapina (diferença estimada 1,92kg, IC95% 0,31-3,54, p=0,02 em 30 dias; diferença estimada 2,48kg, IC95% 0,81-4,15, p<0,01 em 60 dias), que não foi observado nos homens. A adesão terapêutica foi melhor no grupo megestrol (RR 1,31; IC95% 1,05-1,64, p=0,02), sendo observada maior perda de seguimento no grupo mirtazapina (RR 0,18; IC 95% 0,03-0,99, p=0,04). CONCLUSÕES: O megestrol parece ser superior à mirtazapina na melhora do peso em 30 dias e na melhora do apetite em 60 dias em pacientes oncológicos portadores de síndrome anorexia-caquexia em cuidados paliativos. Entretanto, pode haver uma diferença entre os sexos quanto à resposta terapêutica e as mulheres parecem se beneficiar do uso da mirtazapina.