As (in)certezas sobre a idade mais indicada para a alfabetização: análise dos discursos especializados destinados à formação de professores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Leme, Andressa Caroline Francisco
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48135/tde-29052024-090656/
Resumo: Nesta pesquisa, examinam-se os discursos pedagógicos sobre a idade mais indicada para o início da alfabetização. Como parte da análise desse tema, caracteriza-se também de que maneira a expressão ambiente alfabetizador está presente nesses discursos como um fator que favorece ou prejudica a alfabetização, levando-se em conta o desenvolvimento infantil. A análise se concentra nos livros sobre como alfabetizar as crianças destinados aos professores em formação e nos documentos oficiais publicados no Brasil entre os anos de 1930 e 1997. A partir da perspectiva de Michel Foucault sobre a análise do discurso e dos textos de Paul Veyne sobre a escrita da história, bem como de Viñao Frago e outros sobre a cultura escolar, a investigação objetiva contribuir para a compreensão de como se formulou historicamente a controvérsia relativa à idade certa para o início da alfabetização e de que modo os discursos pedagógicos voltados ao tema se apropriaram dos saberes da psicologia do desenvolvimento para nortear a formação de professores. Dessa forma, nesta pesquisa, não se trata de concordar com a ideia de que existe uma idade ideal para a alfabetização, mas sim de procurar caracterizar a produção desse discurso. O exame evidencia que, no período de análise, houve a transição do ideário escolanovista para o construtivista, de forma que os enunciados sobre a idade ideal para a alfabetização atravessaram fronteiras discursivas disputadas e provisórias sobre quem é a criança e como se desenvolve, e quando e como deve aprender a leitura e a escrita na escola. Com isso, os discursos pedagógicos apresentaram repetições e variações discursivas acerca da maturidade, do interesse, da prontidão e do ritmo de aprendizagem das crianças, mas, ainda assim, produziram transformações distintas no campo pedagógico. Os escolanovistas fundamentaram a ideia de que era preciso considerar a (in)capacidade biológica da criança para o aprendizado, mensurada pelos testes psicológicos; enquanto os construtivistas disseminaram a compreensão de que todas as crianças poderiam aprender, já que elas elaboravam suas próprias hipóteses sobre a escrita antes mesmo de ingressarem na escola. Esses efeitos discursivos produziram modos distintos de conceber o ambiente escolar: entre os anos 1930 e 1970, o ambiente era um recurso para otimizar o trabalho docente, à medida que era planejado para assegurar a saúde, o desenvolvimento físico e intelectual das crianças, aspectos caros para o ensino da leitura e da escrita; posteriormente, em meados da década de 1980, recomendou-se que as crianças fossem imersas em um ambiente alfabetizador, o qual deveria ser criado pelo professor, mas requeria a sua atuação discreta, promovendo assim o apagamento docente, visto que o educador deveria ensinar sem parecer ensinar, e a criança deveria aprender espontaneamente. A idade cronológica mais indicada para a alfabetização atravessou ambos os discursos, tendo sido ora central, ora secundarizada nas discussões, mas sempre subordinada a uma certa compreensão de como o ensino deveria ser adaptado à criança em desenvolvimento.