O impacto da caça versus a conservação de primatas numa comunidade indígena Guajá

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Prado, Helbert Medeiros
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41134/tde-16042008-102816/
Resumo: Reservas Indígenas têm tido um papel imprescindível na manutenção de áreas florestais na região neotropical. Existe na Amazônia uma clara associação entre estas reservas e a presença de cobertura florestal. Por outro lado, a simples presença de uma vegetação contínua não é garantia de conservação da biodiversidade, sobretudo em contextos onde a caça é presente. Este estudo analisou a pressão de caça sobre Macacoprego (Cebus apella) e Bugio (Alouatta belzebul), realizada pelos índios Guajá, da comunidade Awá (Maranhão, Brasil). A análise se baseou no conjunto de crânios e mandíbulas de indivíduos consumidos no local no final dos anos 1980. A análise de sustentabilidade se baseou em dois métodos principais, no Modelo de Produção e na análise do padrão intra-específico de abate. A aplicação do modelo de produção indicou uma caça acima dos níveis sustentáveis para as duas espécies, numa área efetiva de caça de 78,5 km2. Mesmo com a incorporação de uma área fonte, que resultou numa área total de 314 km2, o modelo continuou indicando uma caça não sustentável de Bugio. A análise do padrão intra-específico de abate, realizada somente para Bugio, indicou uma proporção de machos e adultos na amostra de Bugios abatidos significativamente maior do que aquela esperada para o gênero Alouatta, o que indica um padrão de caça não aleatório. Conjugando a análise quantitativa com os fatores locais de ordem demográfica e sóciocultural foi possível verificar a presença de fatores positivos e negativos à sustentabilidade no local. A ausência de caça comercial, o fato das duas espécies não serem naturalmente raras, a prática de expedições de caça de longa duração, e evidências de baixa proporção de fêmeas entre os Bugios abatidos se configuram como fatores positivos à sustentabilidade. Já os fatores que comprometem a manutenção das duas espécies na área são: a proximidade com centros urbanos e acesso a armas de fogo, o crescimento da população indígena, a baixa taxa intrínseca de crescimento natural dos primatas e a alta susceptibilidade de Bugio à caça. As previsões geradas neste estudo parecem estar corretas uma vez que é consenso entre os Guajá da comunidade Awá que há um processo de diminuição na disponibilidade de primatas, entre outras espécies de mamíferos de médio e grande porte, nos arredores do assentamento. O declínio de presas nas proximidades do assentamento tem aumentado a freqüência de retiros de caça de longa duração. Atualmente na comunidade Awá, estes retiros parecem reproduzir uma maior mobilidade existente antes do contato e conseqüente fixação. Essa dinâmica demonstra a importância do estabelecimento de Reservas Indígenas de tamanho adequado, oferecendo condições para que as comunidades assentadas possam se ajustar às flutuações locais de presas antes que o impacto local na fauna seja irreversível.