Subjetivação, temporalidade e discurso: atualizações da forma-homem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Russo, Diego Rafael Betti
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-20032023-122733/
Resumo: No encalço das contribuições fulcrais de Michel Foucault acerca da noção de subjetivação, tomando-a como uma produção datada, contínua e historicamente forjada, em contraste com a noção de sujeito universal, metafísico e atemporal, esta investigação dedica-se a analisar a discursividade referente a certo ideário em torno do presente e do futuro daquilo que é comumente representado pelo termo homem. Para tanto, retomou-se, primeiro, o famigerado diagnóstico foucaultiano sobre a iminente morte do homem no livro As palavras e as coisas e, depois, o prognóstico de Gilles Deleuze que, ao revisitar a pista de Foucault sobre os limites da forma-homem duas décadas mais tarde, entreviu nos acontecimentos do fim do século XX a ocasião capaz de fissurar tal formação subjetiva e, quiçá, franquear a emergência de outra. Diante da questão da temporalidade, inerente a um conjunto discursivo sobre o homem proferido no passado, fez-se necessário operar de acordo com um duplo viés teóricometodológico inspirado no pensamento de Michel Foucault. De um lado, junto das noções de veridicção, problematização, acontecimento e, sobretudo, arquivo, tratou-se de recusar uma concepção de tempo calcada em atributos como linearidade, sucessão e causalidade, facultando uma analítica extemporânea com base na justaposição de múltiplas temporalidades. De outro, a fim de perspectivar o horizonte discursivo acerca do presente e do futuro da forma-homem, foi preciso recuar temporalmente: em vez de manter a mirada nos acontecimentos coetâneos, fez-se necessário voltar a mirada da investigação para a época logo após o anúncio da morte do homem, precisamente no ano de 1968, notabilizado tanto por ocasionar um sem-fim de acontecimentos de grande monta pelo mundo, como por irradiar toda sorte de análises e reflexões sobre o homem. Desta feita, o corpus do trabalho foi constituído por 1.681 reportagens de capa da revista Veja, tomando-a como caixa de ressonância fática dos discursos sobre o homem, desde sua primeira edição, em setembro de 1968, até a última publicação do ano 2000. Em um primeiro momento, as reportagens foram mobilizadas para alicerçar uma plataforma discursiva extensiva e longitudinal, por meio de um procedimento analítico inspirado no livro As palavras e as coisas, acerca dos deslocamentos das empiricidades do homem na qualidade de ser vivente que lida com seu corpo (vida), que organiza o trabalho e a produção (trabalho), e que fala e se comunica (linguagem), com vistas a dimensionar as mutações das práticas sociais e dos modos existenciais no decurso de pouco mais de três décadas. Em seguida, o arquivo foi mobilizado para compor uma espécie de inventário topológico das temporalidades aí em causa, objetivando dar a ver os diagnósticos-prognósticos sobre o presente e o futuro do homem, bem como perscrutar sua lida diante dos acontecimentos que ensejavam anunciações de futuro, dos mais ufanos e celebrados aos mais vilipendiados e aviltados. Como saldo analítico da investigação, desponta uma engrenagem de governamento dos homens que opera sobremaneira pelos imperativos autonomia e fluxo em detrimento das noções de determinismo/subordinação e fronteira/imobilidade; termos cujo significado era constantemente atualizado e indexado até chegarem às acepções atuais. Verificou-se, igualmente, se tratar de um governamento que, imantado a uma operatividade ressignificada do tempo futuro, visou entrever o porvir do homem, de modo a não deixar a forma-homem arrefecer. Tal governamento, gestor anímico do porvir, não objetivaria outra coisa senão operar a manutenção da forma-homem com vistas a não deixar prescrever sua data de validade; um governo do futurível, em suma