Tem, mas acabou: sobre as transformações na pajelança ka\'apor

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Abreu, André Sanches de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-23072024-153851/
Resumo: Esta dissertação tem como objetivo tratar sobre a pajelança entre os Kaapor - povo de língua tupi que habita a Terra Indígena Alto Turiaçu (MA) - à maneira que os próprios Kaapor a pensam e a descrevem. Parto da afirmação recorrente entre os próprios Kaapor, com ecos na produção etnográfica sobre eles, sobre a inexistência de pajés atualmente. Tal afirmação parece contradizer a presença da pajelança no cotidiano Kaapor, facilmente verificável pelo trabalho de campo. Afinal, como já indicado anteriormente por outros autores, falar sobre pajé, obviamente, não é falar só sobre pajé. Há muitas outras dimensões dos modos de vida dos Kaapor que merecem atenção para que se aproxime de tão complexo e presente assunto. Me refiro às narrativas dos antigos, às músicas e canções, aos conhecimentos dos e sobre os entes da floresta, aos resguardos e proibições, às doenças, e às redes de conhecimento e interações. Quando se pergunta sobre paje aos Kaapor, muitas vezes as respostas tratam sobre peixes, aves e outros animais da floresta que têm ou são paje. Aqueles que são identificados como pajé também preferem o furtivo movimento de negar e indicar outros pajés, ou ainda afirmar que sabem muito pouco sobre isso. Tudo isso se apresenta como complexidade adicional para o simples movimento de considerar pajé algo equivalente a um cargo, ou a algo do domínio social humano propriamente. Paje entre os Kaapor pode aparecer como nome, ação, qualidade. Por essa razão a ideia é menos a de afirmar que encontrei o que ninguém encontrou do que proporcionar o encontro do que foi dito em etnografias clássicas com o que me contaram os Kaapor sobre paje. O trabalho, portanto, está centrado em entrevistas realizadas com os Kaapor, especialistas pajés ou não, sobre a pajelança, os modos de se virar pajé, e as diferenças entre a pajelança dos antigos e a realizada agora. Assim, o que sustenta a descrição e as argumentações são os registros audiovisuais que compõem acervo documental cultural e linguístico consolidado junto aos Kaapor. O estudo, a partir da documentação, tornou possível identificar uma reflexão sobre o conhecimento da pajelança que envolvia, entre inúmeras narrativas, um vocabulário responsável por delinear os termos da relação dos paje com os auxiliares afilhados (tupiwar), as karuwar (projéteis atirados aos humanos pelos animais pajés ou por seus donos), entre outros. Tal investigação resultou também em um glossário temático localizado ao final da dissertação