Ciência empírica e justificação: por uma leitura epistemológica do Aufbau

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1990
Autor(a) principal: Xavier, Rejane Maria de Freitas
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-26082013-111517/
Resumo: A interpretação usual da obra de Rudolf Carnap, Der Logische Aufbau der Welt (Aufbau),assentada sobretudo na sua leitura por parte de Goodman e de Quine na década de 50, toma-o como um projeto empirista de explicitação dos nexos lógicos entre os conceitos de diferentes domínios teóricos e \"o dado\". Essa interpretação minimiza o problema epistemológico, central no Aufbau, da legitimação (da justificação, da validade de jure) das pretensões de conhecimento das ciências factuais (Realwissenschaften, em contraposição às Formalwissenschaften). Ao examinar o projeto de Carnap como um projeto neotranscendental de justificação do conhecimento empírico, inverte-se a prioridade concedida ao esclarecimento conceitual entre as motivações do Aufbau. Na concepção de epistemologia que subjaz a esta abordagem do Aufbau, Hume e Kant, empirismo e racionalismo aparecem como representações estilizadas e simplificadas da polarização que se exerceu sobre Carnap frente a um tópico proposto pela tradição filosófica: o conhecimento empírico, as leis universais das ciências factuais, são ou não são passíveis de justificação racional (e de que modo)? Tal inversão permite entender as teses e os passos da teoria da constituição de Carnap de maneira a dar conta de forma coerente e sistemática de aspectos dessa obra que a maioria das análises trata de modo fragmentado e desconectado. Sob essa luz, são abordado temas como a escolha do instrumental formal da teoria da constituição, o papel da teoria das descrições definidas e do modelo das definições implícitas, a tese da extensionalidade, o estruturalismo, o formalismo, as pressuposições extrasistemáticas, a relação da ordem epistêmica com a ordem lógica, a distinção entre \"o sistema\" (na forma ideal em que o concebe a teoria da constituição) e o \"esboço provisório\" que Carnap propõe no Aufbau a título de exemplo. Quatro problemas principais que comprometem seriamente esse projeto de Carnap são examinados contra o pano de fundo da leitura epistemológica proposta. Os dois primeiros (suposições extra-sistemáticas e construção do tempo e do espaço) dizem respeito ao \"esboço provisório\", mas são dificuldades que não se devem ao estado provisório dos próprios conceitos científicos mas à incapacidade desse esboço de ater-se aos preceitos da teoria da constituição de que pretende ser uma aplicação. As duas dificuldades restantes (finitismo e decidibilidade, e caráter inteiramente formal do sistema) afetam a própria concepção do sistema ideal. Como desiderata da teoria da constituição, terminam por se revelar incompatíveis com traços fundamentais do conhecimento empírico de cuja preservação não é possível abrir mão sem descaracterizá-lo profundamente. O caráter original do projeto carnapiano de justificação racional completa e cabal de todo o conhecimento empírico termina portanto por conduzi-lo a posições incompatíveis com o próprio empirismo. Para preservar \"o caráter aberto e a inevitável incerteza de todo conhecimento empírico, Carnap abrirá mão do sistema único e total de conceitos científicos como garantia da objetividade e da possibilidade de comunicação, substituindoo, depois do Aufbau, pelo princípio de tolerância ou da convencionalidade das formas de linguagem