Paleobiologia de Cloudina sp. (Ediacarano, Grupo Corumbá): implicações tafonômicas, taxonômicas e paleoecológicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Kerber, Bruno Becker
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44141/tde-25082015-092250/
Resumo: Cloudina foi o primeiro fóssil de um organismo biomineralizado encontrado no final do Ediacarano. Também figuram nesse período Corumbella, Namacalathus, Sinotubulites e Namapoikia entre a biota esquelética. No Grupo Corumbá (MS), em carbonatos e pelitos da Formação Tamengo, ocorrem os fósseis de Cloudina e Corumbella, respectivamente. Este trabalho teve como objetivo analisar questões paleobiológicas referentes ao fóssil esquelético Cloudina, como seu contexto tafonômico, taxonômico e paleoecológico. Análises geoquímicas e de microestrutura foram realizadas para permitir melhor compreensão da esqueletogênese desse fóssil. Para tanto, foram utilizadas técnicas paleométricas, como: Espectroscopia Raman, Energia Dispersiva de Raios-x (EDS), Fluorescência de Raios-x por Energia Dispersiva (EDXRF) e Fluorescência de Raios-x Sincrotron (XRF-SRS) - para as análises de composição química e mineralógica; e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Microtomografia Computadorizada (MicroCT) - para imageamento de microestruturas e feições morfológicas não visíveis na superfície, respectivamente. As análises tafonômicas de orientação revelaram padrões NNE-SSW e NE-SW, assim como WNW-ESSE, sugerindo correntes que variaram desde quase paralelas, até, possivelmente, perpendiculares com relação à linha de costa. As alterações tafonômicas encontradas incluem fragmentação das porções externas da concha, deformação plástica, neomorfismo, dissolução da parede e presença de calcita eodiagenética entre as abas dos funis. Esse contexto tafonômico indica uma deposição por retrabalhamento dos bioclastos e sugere que informações morfológicas, como diâmetro, são alteradas tafonomicamente. A análise biométrica das amostras alóctones indicou bimodalidades para populações estatísticas de Cloudina considerando 1, 2, 3 ou 4 camadas em corte transversal, e conjuntamente com a distribuição de tamanho normal para uma assembleia autóctone sugere uma mistura de populações originais de tamanhos diferentes. Esses resultados trazem implicações para a taxonomia de Cloudina para esses depósitos, definindo C. lucianoi como tafotáxon. A análise da amostra autóctone demonstra a ocorrência de Cloudina com biolaminitos e microfósseis e fortalecem a interpretação de que esse metazoário vivia em habitats associados com microbialitos. A presença de goethita e calcita eodiagenética entre as abas de Cloudina, assim como microesferas silicificadas sugerem a presença de uma matéria orgânica nessas porções externas do organismo que podem estar relacionadas com o desenvolvimento de possíveis biofilmes simbiontes. A posição de vida horizontal verificada para Cloudina na amostra autóctone indica a versatilidade de modo de vida dessa organismo quando comparada a ocorrências de espécimes verticais em outras localidades. Nessa mesma amostra, indivíduos com mudanças na direção de crescimento podem ser resultantes da proximidade com outros espécimes, o que sugere capacidade sensoriais que auxiliariam na ocupação do substrato. Os resultados de MEV demonstraram que geralmente a microestrutura não está preservada, mas em alguns casos pode-se notar microgrânulos de calcita e um padrão reticulado. Conjuntamente com MEV, em análises petrográficas foram observadas duas camadas formando a parede de Cloudina. As análises geoquímicas de EDS e Raman demonstraram a presença de carbono na concha e corroboram trabalhos anteriores que postularam uma concha rica em matéria orgânica. As quantidades de Mg% e MgO% verificadas por EDS caracterizaram os fósseis da Formação Tamengo como de baixo teor de magnésio e fitting de bandas de calcita em espectros Raman fortalecem essa interpretação. Mesmo assim, alterações diagenéticas de estabilização por perda de Mg podem ter ocorrido. Os resultados de XRF-SRS mostraram que não há variação de Sr maior que 1000 ppm entre o fóssil e a rocha, indicando que, pelo menos, a mineralogia da concha não era aragonítica. Sendo assim, o presente trabalho traz novos cenários para a paleobiologia de Cloudina da Fm. Tamengo: Cloudina lucianoi é considerado como tafotáxon pelo contexto tafonômico e análise biométrica, indica ambientes de vida associados com microbialitos e possíveis cianobactérias, relações simbióticas podem ter ocorrido entre esse metazoário e biofilmes, é inferido modo de vida horizontal a sub-horizontal, é sugerido comportamentos de competição por espaço, a esqueletogênese de Cloudina é caracterizada por funis compostos por uma parede com duas camadas, rica em matéria orgânica e com microgrânulos de calcita.