De rocks, murgas e maracatus: o fazer musical e a construção do \'local\' sob o neoliberalismo latino-americano da virada do século. Um estudo comparativo das bandas Bersuit Vergabarat (Argentina) e Chico Science & Nação Zumbi (Brasil)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Locoselli, Larissa Fostinone
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-04092019-160153/
Resumo: Este trabalho se interessa pelas reconfigurações na ordem do simbólico em sociedades latino-americanas a partir do início dos anos 1990 em vista do processo transnacional de hegemonização do capitalismo pós-industrial a partir da aplicação de políticas neoliberais. Na tentativa de interceptar efeitos de sentido produzidos sob essa conjuntura, nos centramos num determinado campo da produção de bens simbólicos: a música popular (MP). O objeto se especificou a partir de um recorte de produções da MP latino-americana que: i) participassem das disputas simbólicas em torno do rock considerado nacional nesse contexto, e ii) fossem definidas ou se auto definissem a partir de noções como mistura, fusão, hibridismo etc. Nossa pergunta norteadora foi, então: nas condições de produção em que foram formuladas, em que medida e de que modo as relações de dentro-fora, que necessariamente devem funcionar sob a noção de mistura, são determinadas, nas produções musicais de interesse, pelo funcionamento de uma dicotomia local vs. forâneo, característica da própria formação das culturas latino-americanas? Como a natureza do próprio objeto não admitia conclusões sobre predomínios, desenvolvemos um estudo comparativo de dois casos, em busca de regularidades discursivas: as bandas Bersuit Vergarabat (Argentina) e Chico Science & Nação Zumbi/Nação Zumbi (Brasil). Nosso objetivo foi, então, investigar como se determinavam discursivamente o local e o forâneo em suas produções. Para isso, analisamos um corpus de canções de cada uma das bandas, além de outros tipos de materiais presentes nos próprios álbuns das agrupações, assim como entrevistas, reportagens e documentários realizados com seus integrantes. Estudamos, a princípio, como a determinação de local e forâneo se dava na construção do próprio fazer criativo/musical como objeto de discurso, com especial atenção à relação de tal construção com gêneros ou tradições musicais. Ao realizar tal abordagem analítica, chegamos também à observação de que a tematização da desigualdade social parecia ser decisiva na determinação discursiva de local, em ambos os casos estudados. Essa observação nos levou, então, à articulação de um segundo eixo de análise a partir de um conjunto de canções reunido em vista dessa questão. De modo geral, nosso trabalho assume uma perspectiva materialista de análise de discurso, mas mobiliza também conceitos de outras linhas teóricas de abordagem ao discurso e à enunciação. As análises realizadas focaram, fundamentalmente: a cenografia enunciativa, especialmente quanto à correlação entre instâncias de pessoa e lugares de dizer; e a constituição de objetos discursivos, buscando refletir constantemente sobre a textualização do interdiscurso e abordando mecanismos como a cadeia correferencial, as construções relacionadas ao contraste, os papeis temáticos, entre outros aspectos da materialidade discursiva. Além disso, no tratamento às canções, buscou-se considerar, no interior do dispositivo analítico, também aspectos da materialidade musical e corporal (performática) da canção.