A rede urbana das minas coloniais: na urdidura do tempo e do espaço

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Moraes, Fernanda Borges de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16131/tde-11042022-154048/
Resumo: A rede urbana das Minas coloniais, se entendida apenas sob a lógica administrativa e política da Coroa Portuguesa, expressa as estratégias com as quais se intentou conduzir processos ora de centralização ora descentralização do poder, o que se evidencia no contexto em que foram forjados seus principais pólos, basicamente sua cidade e suas vilas. No entanto, ela se revela muito mais complexa e dinâmica na imbricada dialética entre urbano e sertão, na qual ganham importância outros núcleos, pela sua localização estratégica; outras atividades produtivas que não a mineração; os espaços produzidos na subversão da ordem vigente - os dos motins, dos quilombos, do contrabando - e, até, as práticas de gestão das questões cotidianas, que não podiam aguardar a intervenção de uma administração ou justiça muitas vezes geograficamente tão distantes. E, nesse sentido, no complexo mundo colonial, onde ora as ações do Estado, da Igreja e de particulares confluíam em interesses comuns, ora se opunham em acirrados conflitos, seria reducionismo relacionar o fenômeno da urbanização em Minas apenas ao papel de alguns pólos mais destacados. Exige, ao contrário, considerar uma série de articulações expressas na organização dos espaços macro e microrregionais e nas relações de dependência, hierarquia, função e especialização de seus assentamentos humanos e que conformam um sistema integrado de maior amplitude que é a rede urbana. Se o que distinguiu e conferiu um caráter especial ao processo de urbanização em Minas foi, por um lado, o seu impacto na estrutura económica e territorial da América Portuguesa, com o deslocamento do eixo económico-administrativo para o centro-sul e o desenvolvimento de articulações com regiões distantes, integrando mercados, ampliando fronteiras e fortalecendo a unidade territorial interna; por outro lado, no interior da capitania, as peculiaridades dessa urbanização revelavam-se nas formas como a população ocupou um território de vasta extensão, distribuindo-se em aglomerações de características diversas, articuladas segundo uma estrutura hierárquica dinâmica e complexa. A expressão espacial desses processos é evidenciada no amplo corpus documental constituído pela cartografia produzida no século XVIII e nas primeiras décadas do XIX que, comparada, cotejada e confrontada com outros registros documentais e estudos diversos, possibilitou-nos reconstruir uma geografia do que foi a rede urbana das Minas coloniais, abordando tanto suas articulações macrorregionais, quanto os processos que caracterizaram a formação de seus assentamentos humanos e de sua rede urbana, o que buscamos expressar no título desta tese: A rede urbana das Minas coloniais. Já no sub-título - na urdidura do tempo e do espaço - buscamos sintetizar o caminho trilhado no processo de recomposição de suas expressões espaciais, explorando os sentidos diversos do termo urdidura, esse conjunto de fios a partir dos quais se constrói a trama. Além da intenção de entrelaçar os fios do tempo no espaço - aspectos que a análise da cartografia da América Portuguesa e das Minas Gerais no período colonial buscou privilegiar - expressa ainda a marcha da constituição de sua rede urbana, em suas dimensões micro e macrorregionais, com a abertura e expansão dos caminhos, no ponto e alinhave da constituição dos assentamentos humanos. O sentido de trama também nos remeteu aos conluios e ardis, aos descaminhos do ouro, enfim, às expressões de uma subversão da ordem vigente, que conferiram complexidade e dinâmica às formas diversas do processo de construção da rede urbana colonial mineira. O delineamento de tais questões se refletiu na definição dos recortes temporal e espacial adotados. O recorte temporal de referência - de fins do século XVII, quando das primeiras notícias da descoberta do ouro nas Minas, até a Independência - apresenta as conveniências de abarcar tanto os primórdios da constituição da rede urbana mineira quanto os processos que resultaram em suas diversas reestruturações. Quanto ao recorte espacial, a tarefa de recomposição das expressões espaciais da rede urbana colonial mineira impôs a consideração de todo o território da Capitania de Minas Gerais, tendo como referências suas delineações presentes em fins do período em tela, cujos limites ainda não eram de todo precisos e inequívocos e, tal como avançamos e retroagimos no tempo, analogamente também o fizemos com relação ao espaço. Buscando, assim, compreender o processo de urbanização nas Minas coloniais, por meio da especialização das narrativas históricas, esta tese conjuga duas linguagens em estreita articulação, a escrita e a cartográfica, o que nos permitiu melhor espacializar não só as diacronias como as sincronias.