Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Mariano, Fabíola de Almeida Salles |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-01112017-103506/
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Resumo: |
Silenciosamente, alguns materiais cromáticos omitem qualidades potentes. Um simples olhar mais demorado pode ativá- -las. Outras vezes, é necessário o envolvimento de todo o corpo, numa relação de aproximação e convivência, para que o potencial se apresente. O pau-brasil - ou ibirapitanga, como denominada pelos indígenas - é uma árvore cujo cerne do tronco possui uma matéria orgânica, a brasilina, que produz cor, primeiro por entrar em contato com o oxigênio, depois por outros processos químicos. Uma cor? Não, diversas, a depender do modus operandi das ações e reações escolhidas. Essas cores podem ser fixadas e ter certa permanência quando usadas como corante para têxteis e papéis ou como pigmento em diferentes suportes. Por quanto tempo? Segundo os especialistas em tingimento, não muito. Numa perspectiva histórica, a ibirapitanga foi apreciada e utilizada como corante por conta de uma herança cultural: o gosto pelo púrpura e pelo carmim, tonalidades adoradas pelos povos antigos. Sua exploração no território brasileiro se deu de maneira agressiva, conflituosa e cheia de contradições a partir do \'encontro\', não apenas do homem com o material, mas de homens com homens, quando os navegantes europeus do século xvi fizeram as primeiras viagens para a América do Sul e entraram em contato com os povos locais. O estudo de documentos antigos, o toque no papel amarelado dessas publicações e o abrir o envelope de uma carta assinada pelo rei numa biblioteca em Lisboa adensaram o conteúdo teórico desta pesquisa, assim como contribuíram enquanto dado sensorial e imagético. De fato, resquícios do corante do pau-brasil em pinturas ou tecidos de acervos históricos não foram encontrados presencialmente apesar das tentativas. Foi somente a partir da reprodução de receitas, com as necessárias adaptações ao contexto contemporâneo, e dos desdobramentos destes experimentos em outros processos análogos, que o sentido da investigação poética se deu. Produzir cor com uso da ibirapitanga foi o centro das experimentações em ateliê. Como podemos atualizar a presença desse material cromático hoje? Foi por meio de diversas leituras, dos processos práticos no ateliê e de importantes conversas que o conteúdo da pesquisa ganhou sentido e se tornou possível estruturar este texto, que contém um breve histórico do pau-brasil, um caderno de receitas e a produção poética com o uso da ibirapitanga. Selecionamos ainda quatro conversas relevantes para a atualização do tema: a primeira realizada com Ana Cristina de Siqueira Lima, presidente da Funbrasil - Fundação Nacional do Pau-Brasil, que realiza ações de preservação da espécie; a segunda, com Eva Eis, pesquisadora e técnica em restauro da Universidade Técnica de Munique (tum), que desenvolve no momento pesquisa acerca de receitas de pigmentos de pau-brasil e que trabalha na fábrica Kremer Pigmente; com o artista Carlos Vergara, que se utiliza de materiais naturais para a produção de suas telas, valendo-se da monotipia e outros processos para revelar a presença da cor; e com a pintora e escultura Amelia Toledo, que evidencia sutis diferenças cromáticas enquanto matéria construtiva e propositiva de suas obras de arte. Esta publicação é fruto destes e de outros encontros que aconteceram nos últimos anos, e, por meio de diferentes materiais, tonalidades e palavras, celebra de maneira ambivalente (já que tratamos da ibirapitanga e sua memória de ásperos conflitos) essas aproximações, que imprimem e deixam seus rastros. |