As cerâmicas da Casa da Torre e do Galeão Sacramento: hierarquia social, ideologia e simbolismo nas práticas alimentares na Bahia colonial

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Leandro Vieira da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-06032020-085400/
Resumo: O objetivo principal desta tese é testar o modelo social da sociedade baiana colonial descrita pela historiografia clássica, por meio do estudo da cultura material ligada às práticas alimentares dos reinóis elitizados, dos mazombos e dos escravos de origem indígena e africana. Para tanto, a pesquisa seleciou as coleções recuperadas de dois sítios históricos: a Casa da Torre de Garcia D\'Avila, localizada na Praia do Forte, cujo casarão começou a ser construído a partir de 1551 e o Galeão Santíssimo Sacramento, afundado no ano de 1668, em Salvador. O trabalho apresentaanálises de artefatos de vidro, de metal, de material orgânico, das ruínas de uma antiga armação baleeira e, principalmente, de materiais cerâmicos de diferentes pastas, a partir de 3 atributos: morfologia, decoração e marcas de uso. Além disso, foram desenvolvidosum método estatístico específico para analisar pratos e uma contextualização histórica sobre os hábitos alimentares da população baiana colonial,com o objetivo de proporcionar um maior respaldo para as interpretações finais. Os resultados apontam que os reinóis embarcados no Galeão Sacramento levavam toda a modernidade transatlântica de sua época, representada por uma diversidade de utensílios, que apontam para aspectos de individualização, segmentação e formalização das refeições, enquanto uma estratégia de diferenção social e de dominação simbólica sobre a população baiana.Na Casa da Torre, a simplicidade da maior parte das peças cerâmicas e presença de eventuais objetos sofisticados, sugerem que a família apresentava uma rusticidade em seu cotidiano, mas que apresentaria um algum requinte para ocasiões especiais, como o uso efetivo de peças mais refinadas e determinadas formas que sugerem a prática de refeições individualizadas e com alimentos mais líquidos e pastosos desde o século XVI, sugerindo uma ideologia mais conservadora em relação à alimentação.Entre os materiais dos escravos, ressalta-se que houve a identificação de morfologias que apontam para o consumo de caldos e ensopados, a evidencia de vasilhames que sugerem o contexto de contato entre europeus e indígenas e peças recicladas a partir de objetos de faiança, revelando a presença de agências criativas, o que proporcionou uma nova linguagem de cultura material. Os resultados obtidos nesta investigação suplantaram algumas perspectivas reducionistas e generalizantes sobre as práticas alimentares relativas ao período colonial.