Resumo: |
Partindo da premissa de que o ensino de língua materna no Brasil se pauta em gramáticas escolares como material bibliográfico, elegemos a Gramática Escolar da Língua Portuguesa, de Evanildo Bechara, material de referência no país, para analisar o tratamento dado ao capítulo dos substantivos, categoria morfológica presente nos currículos do Ensino Fundamental Anos Finais e Médio. Através da análise desse material e de relatos de experiência, buscamos demonstrar que as definições apresentadas para os substantivos, muitas vezes, levam em conta apenas seu uso referencial. A fim de compreender as causas dessa problemática, revisitamos a Gramática Geral e Razoada de Port-Royal, documento precursor nos estudos de Gramática no Ocidente, onde encontramos um ideal de transposição direta entre o pensamento e a linguagem. Tais ideias são consoantes com as de Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho, filósofo da patrística cujos escritos sobre a linguagem seriam contrapostos pelo filósofo austríaco L. Wittgenstein, já na chamada Virada Linguística do Séc. XX, ao observar que a linguagem desempenha uma multiplicidade de funções. Assim, retomamos os escritos de Agostinho , onde se encontra a ideia de que todas as palavras seriam sinais para as coisas do mundo, caracterizando, portanto, uma concepção referencial ou agostiniana de linguagem. Ao apresentarmos a crítica de Wittgenstein à concepção agostiniana da finalidade das palavras em geral, que, de fato, influencia fortemente a concepção de linguagem das Gramáticas tradicionais, buscamos apresentar uma alternativa para a discussão do tema dos substantivos, proposta por CAMACHO, DALLAGLIO-HATTNHER & GONÇALVES, que amplia as subcategorizações tradicionais, de acordo com critérios semânticos. Assim, a busca por uma proposta pedagógica que não só reconheça a uma das problemáticas do ensino de Gramática, mas vise a ampliá-lo e aprofundá-lo, aqui, é de inspiração wittgensteiniana. Através da metáfora dos jogos de linguagem, estabelecemos um paralelo com o que dissera Wittgenstein a respeito da necessidade de se nomear as peças do jogo, antes que se comece, de fato, a jogar, com a importância de se apresentar de modo explícito as diferentes funções de determinados elementos gramaticais, tais como os substantivos, entre outros conceitos gramaticais nas aulas de Língua Portuguesa. |
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