Disputando o parto domiciliar planejado: cercamentos políticos e as resistências de um grupo de profissionais em São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Moreira, Tamires Machado
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-10012025-143511/
Resumo: A assistência ao parto transformou-se em uma zona de combate com diversos sujeitos e interesses envolvidos. O ambiente do nascimento passa por uma transformação dicotômica ao longo da história, emergindo do domicílio para o hospital, do apoio feminino, para a intervenção masculina e da autonomia da parturiente e suas redes, para o ato/poder médico. Transição que repercute na atual assistência através de um modelo que muitas vezes violenta, desrespeita e viola direitos de parturientes e promove um cercamento das profissionais que atuam com Partos Domiciliares Planejados (PDP). Esta tese se debruça sobre a organização da assistência ao PDP, com o objetivo de compreender as dificuldades vivenciadas por uma equipe de enfermeiras obstetras e obstetrizes do município de São Paulo e seus agenciamentos diante do cerceamento à sua atuação. Ao longo da pesquisa afloram objetivos específicos sobre como esta equipe oferece apoio a outras profissionais e como o empreendedorismo se relaciona a busca por autonomia e a ampliação do acesso ao PDP. Para isso, adota-se uma postura etnográfica, que utiliza da vivência da autora com a equipe, por um período de oito meses no ano de 2019, e através da etnografia no ciberespaço com o uso do WhatsApp para o acompanhamento da rotina das enfermeiras obstetras e obstetrizes de outubro de 2021 a outubro de 2022. Utiliza-se também de entrevistas. Além disso, são apresentados dados provenientes da comunicação da autora com enfermeiras obstetras e obstetrizes de outro grupo de WhatsApp, com um laboratório distribuidor de medicamentos, e órgãos públicos. Para a apresentação dos resultados encontrados são narrados fatos ocorridos com a equipe e relatados por elas nas conversas de WhatsApp, utiliza-se também da descrição do observadorparticipante através dos momentos de atuação com à equipe. Os resultados foram divididos em três unidades analíticas: \"Apoio, empreendedorismo e cercamento\", \"Ocitocina\" e \"DNV\". Assim, foi possível compreender que esta equipe de enfermeiras obstetras e obstetrizes durante sua atuação com PDP utilizam-se do conhecimento, da experiência e do engajamento político de sua liderança para enfrentar barreiras relacionadas às dificuldades para atuação com PDP. Dentre as dificuldades enfrentadas pela equipe está o impedimento da utilização de seus CORENs para a realização de compra de medicação essencial para a assistência; conflitos com as médicas, dificuldade de retirada da Declaração de Nascido Vivo, falta de reconhecimento do exercício profissional devido ao preconceito social relacionado à escassez de conhecimento sobre o PDP. Além disso, evidenciou que esta equipe possui uma atuação diferenciada da maior parte das equipes atuantes no município de São Paulo, com preocupação de ações voltadas para o campo do ensino e da ampliação de acesso à assistência humanizada. Assim, possibilitam a escolha da pessoa que gesta por um serviço de menor custo, através da modalidade de assistência coletiva e exercendo o apoio para outras profissionais através da disponibilização de oportunidades de aprendizado com o acompanhamento da equipe como \"parteiras de apoio\" ou através da realização de cursos empreendidos pela equipe com o foco de oferecer maior segurança, protagonismo profissional e liberdade financeira. Esta equipe oferta ainda o curso de pós-graduação pautado na humanização do parto, contando com uma clínica escola recém implementada. Desta forma, esta pesquisa demonstra várias formas de cercamento sobre a atuação profissional de mulheres, com engajamentos políticos em diálogo com o feminismo, que resistem e possibilitam mudanças no modelo de assistência obstétrica no município de São Paulo.