Fatores associados às aspirações educacionais e ocupacionais dos alunos das escolas agrícolas de 2º grau

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1980
Autor(a) principal: Alves Filho, Eloy
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11145/tde-20240301-150518/
Resumo: Tendo o autor participado de um diagnóstico quantitativo e qualitativo nos Colégios Técnicos de 2º Grau no Brasil, realizado em 1974, pela Fundação CENAFOR, e devido à escassez de pesquisas realizadas nessa área, decidiu-se fazer uma análise descritiva do Ensino Técnico Agrícola, especialmente no Estado de São Paulo, bem como identificar alguns fatores que podem estar associados às aspirações educacional e ocupacional dos alunos formandos naquele ano. Especificamente procurou-se neste trabalho: . Caracterizar os alunos quanto a: origem (rural ou urbana); nível sócio-econômico; motivos da procura do curso; aspiração educacional; aspiração ocupacional e suas oportunidades de trabalho. . Caracterizar os estabelecimentos quanto a: localização; dependência administrativa; currículo; equipamentos disponíveis; cursos oferecidos e regime de permanência dos alunos. . Caracterizar os professores quanto a: nível de qualificação; opinião sobre a escola; sobre o profissional formado por aquele estabelecimento e sobre as oportunidades de trabalho para o técnico agrícola. O tipo de estudo empreendido pode ser considerado como descritivo, onde o conhecimento da realidade é feito por meio da descrição das características da população e pelo estabelecimento das associações de determinadas variáveis entre si, conforme SELTIZ e outros (1965). Adota-se, muitas vezes, esse tipo de estudo quando são escassos os conhecimentos teóricos explicativos ou pesquisas sistemáticas que permitam delimitar com certa segurança variáveis explicativas dos fenômenos de estudo e a partir daí, hipóteses explícitas. A população estudada foi: 33 dos 34 Colégios Técnicos Agrícolas em funcionamento no ano de 1974 no Estado de São Paulo; a totalidade dos alunos formandos naquele ano: 928; e todos os professores das escolas, cerca de 457. As transformações sociais e econômicas ocorridas devido ao crescimento industrial e à urbanização, ampliaram o mercado interno dos produtos agropecuários e ocasionaram uma demanda crescente tanto de alimentos quanto de matérias-primas para a indústria. Tornaram-se, então, necessários o aumento e a diversificação da produção do setor primário da economia, seja através do aumento da produtividade, seja por meio da ampliação das áreas cultivadas. Considerando-se a necessidade do aumento da produtividade agrícola para satisfazer o mercado consumidor de produtos da área primária; e levando-se em conta a importância que os órgãos governamentais têm dado atualmente ao ensino profissionalizante e à característica agrícola do Brasil; pode-se dizer que existe necessidade de técnicos agrícolas de nível médio. Neste sentido, a maioria dos professores dos Colégios Técnicos Agrícolas de São Paulo vêem amplas oportunidades de trabalho para os técnicos que estão se formando. Quanto à localização, as escolas se encontram distribuídas por 19 estados da Federação. Não se pode dizer que a situação regional venha figurando como critério determinante para a implantação de escolas agrícolas de nível médio no país. Outros fatores ligados à política local parecem orientar a instalação de escolas, escapando assim, de uma perspectiva mais racional para a satisfação das necessidades da região e do país. Para capacitar os jovens que procuram os Colégios Técnicos Agrícolas, a fim de que desempenhem com sucesso as atividades agropecuárias, estas escolas dispõem de um currículo pleno de habilitação em Agropecuária, estabelecido pelo Conselho Federal de Educação e válido para todo território nacional. Para o 2º Grau, a carga horária mínima é de 5.280 horas/aula, sendo 1560 horas, no mínimo, de conteúdo profissionalizante: 1960 horas/aula de cultura geral e 1760 horas de atividades práticas. Quanto à adequação do currículo à realidade brasileira e sua contribuição para o desenvolvimento do país, deve-se considerar em primeiro lugar, que o aluno seria proveniente do meio rural, portanto, possuidor de certa vivência das atividades agropecuárias. Em segundo lugar, o jovem permaneceria em regime de internato o tempo necessário para sua graduação de técnico agrícola, no mínimo três anos, onde receberia uma formação mista de cultura técnica, geral e experiência prática. Apenas cerca de 59 por cento dos professores dos Colégios Técnicos Agrícolas de São Paulo consideram o currículo adequado às necessidades do desenvolvimento agrícola da região. Isto reflete uma visão pouco otimista dos professores sobre a maneira pela qual o currículo se insere no contexto regional. Todo estabelecimento educacional requer para a consecução de seus objetivos uma infra-estrutura física e material, sem a qual não poderia sequer existir como instituição. O processo de ensino-aprendizagem não depende apenas da ocorrência de interação aluno-professor mas, de várias condições que interferem nessa relação e no aprendizado, determinando assim sua eficiência. Partindo deste ponto de vista, surge a necessidade da escola, especialmente a profissionalizante, oferecer ao estudante a que se propõe formar, um mínimo de condições, em termos de equipamentos e instalações, que lhe propiciem não apenas um melhor desempenho de suas funções educativas como também uma maior dedicação às atividades práticas. Em relação a máquinas agrícolas, os estabelecimentos de São Paulo são os mais bem equipados do país. No entanto, os equipamentos se encontram desigualmente distribuídos pelas escolas, sendo que algumas possuem um número considerado suficiente de máquinas e implementos, em relação ao número médio de alunos por escola: cerca de 127; enquanto outras carecem de todo tipo de recursos. Sobre os professores, estes se distribuem em duas categorias, conforme o tipo de escolaridade: uma técnica, voltada para o setor primário; e outra acadêmica ou de cultura geral. Neste tipo de ensino, os profissionais que possuem curso superior na área agrotécnica indicados para ministrarem as disciplinas técnicas são, em sua maioria, engenheiros agrônomos e médicos veterinários, devido ao conhecimento que possuem acerca dessas disciplinas. Nesta categoria encontram-se 13,3 por cento dos professores. Em relação ao nível educacional dos professores do Ensino Agrícola, o Estado de São Paulo apresenta um nível elevado, pois 97,2 por cento dos professores possuem curso superior. Estando, portanto, bem acima da média para o Brasil, que é de 72,5 por cento. Quanto ao número de professores por escola os estabelecimentos de ensino agrícola de São Paulo apresentam uma média de 13,8 professores, sendo 5,5 na área de cultura técnica e 8,3 de cultura geral. Em relação à média brasileira, esse estado se encontra em posição inferior, pois a média geral é de 16 professores por escola, sendo 6,2 de cultura técnica e 8,7 de cultura geral e 0,7 de cultura técnica e geral. Considerou-se a aspiração como um desejo do indivíduo em alcançar um objetivo tido como um bem. Neste estudo, o objetivo desejado foi identificado como a ocupação após a formatura ou a continuidade dos estudos em uma universidade. Considerados, respectivamente, aspiração ocupacional e aspiração educacional. Os jovens técnicos, apresentaram vários tipos de aspirações, mas a tendência forte foi pela procura de ocupações liberais: 61,5 por cento dos alunos. Esta situação reflete o prestígio que estas profissões e uma escolaridade a nível superior gozam em nossa sociedade. Em contrapartida, sente-se o pouco prestígio das ocupações agrícolas e manuais especializadas, onde apesar do ensino ser profissionalizante e voltado para o setor primário, apenas 10,9 por cento dos alunos aspiraram a ocupações ligadas à agropecuária. A respeito da aspiração educacional dos alunos é, em sua grande maioria, a de continuar os estudos até alcançarem uma ocupação de prestígio e que requer mais escolaridade. O que pode levar os alunos a aspirarem mais a ocupações liberais e à continuidade dos estudos, entre outros fatores, talvez esteja o de se considerarem especializados por terem concluído um curso profissionalizante; ou então, a elevada carga horária das disciplinas de cultura geral, o que lhes possibilita frequentar um curso superior. Constatou-se que mais de 70 por cento da clientela que frequentava o curso técnico agrícola em São Paulo no ano de 1974 era de origem urbana, quando se pressupunha que a escolha de um curso desta natureza seria feita de indivíduos provenientes do meio rural. Este fato pode ser responsável pela variação das aspirações. Mesmo buscando, em sua maioria, ocupações típicas do setor urbano, 73,6 por cento dos alunos afirmaram que existe oportunidade de trabalho para o técnico de nível médio na agricultura, especialmente no Estado de São Paulo, que apresenta considerável grau de mecanização e modernas técnicas de cultivo. Uma outra possibilidade de caracterizar os fatores que influenciaram nas aspirações dos alunos seria a realização de uma nova pesquisa com estes mesmos indivíduos para se conhecer a realidade que estão vivendo; se concretizaram as aspirações; conhecer as dificuldades que encontraram para conseguir trabalho e as deficiências que sentiram no curso frequentado.