Experiências paternas no cotidiano e cuidado do filho com transtorno do neurodesenvolvimento

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: Esper, Marcos Venicio
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
• Palavras-chave em Português: Anthropology of Masculinities; Antropologia; Children; Crianças; Educação; Educação inclusiva; Education; Inclusive education; Institutional Analysis; Masculinidade; Neurodevelopmental Disorders; Paternidade; Paternity; Transtornos mentais diagnosticados na infância
• Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/83/83131/tde-16052023-082822/

Na sociedade contemporânea, a diversidade de modelos culturais existentes leva a diferentes vivências da figura paterna. O fato de o pai assumir outras funções, além da de provedor, como a de cuidador da criança, e a maneira como ele se posiciona em relação à saúde e à doença de seu filho são fundamentais para o desenvolvimento da criança. O objetivo desta pesquisa é interpretar os significados das experiências do pai nas vivências de cuidado do filho com transtorno do neurodesenvolvimento. Para tanto, elegeu-se a abordagem qualitativa, privilegiando-se a abordagem multirreferencial, a partir das contribuições da antropologia das masculinidades e da análise institucional. A primeira abordagem apoia-se nos comportamentos masculinos, os quais variam ao longo do tempo e do espaço, com diversidade cultural nos sentidos e significados da masculinidade. A segunda está ancorada na análise institucional, a fim de desvelar as práticas estabelecidas diante das tensões advindas do itinerário diagnóstico e terapêutico e do cuidado paterno da criança com transtorno do neurodesenvolvimento, cujas práticas instituídas e influências das relações sociais são legitimadas pelo cotidiano e pelas formas de paternidade nelas existentes, evidenciando-se contradições que se materializam por meio das experiências. Participaram do estudo 20 pais de crianças com Transtorno do Neurodesenvolvimento, residentes na cidade de Passos, no estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados presencialmente na primeira fase da pesquisa, por meio de entrevistas em profundidade, e, durante a pandemia da COVID-19, em uma segunda etapa da pesquisa, participaram pais de outras regiões do país na modalidade remota. A pesquisa recebeu aprovação ética das instituições proponente e coparticipante e foram respeitados todos os procedimentos éticos relacionados ao desenvolvimento de pesquisa com seres humanos. O processo de coleta e análise dos dados foi concomitante, e os dados analisados com base na análise temática indutiva e no círculo hermenêutico. Foram construídas sínteses narrativas individuais e, em seguida, duas sínteses narrativas: 1) Entre o filho idealizado e o real: experiências paternas; e 2) Muito prazer, eu sou a paternidade! A primeira destacou que a paternidade é função social cujos caminhos são construídos e reconstruídos ao longo do tempo e da história, e as masculinidades compõem um conjunto de regras, ações, expressões e pensamentos de aspectos associados ao homem e às características do que é considerado masculino, que devem ser constantemente observados e considerados. Os resultados mostram mudanças paradigmáticas em curso sobre o papel do homem-pai em relação ao cuidado da criança com TN, bem como desafios e limitações que ainda circundam o masculino, a paternidade e o cuidado à criança com TN. Destaca-se que olhar esse fenômeno na perspectiva da Análise Institucional contribui para identificar quais são as práticas estabelecidas (instituídas) e desvelar as possíveis tensões no movimento de instituições concatenadas (pai, mãe, família, escola, profissionais da saúde e educação, dentre outros), além de identificar ações e produções de novos sentidos (movimentos instituintes). Os resultados revelam a possibilidade de considerar as experiências paternas no cuidado de crianças com TN uma instituição em constante articulação e, nesse sentido, a ação do pai no processo de cuidar é contextualizada pela institucionalização, de modo que alcançar ou não êxito depende da forma como são exercidas as relações de poder. Destacamos o potencial de que o conhecimento produzido nesta tese, por meio da análise dos sentidos atribuídos às experiências paternas, contribua para a maior compreensão do fenômeno e para qualificar as práticas nos campos da saúde e educação.