Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Barros, Maria Cristina Monteiro de |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-19042023-123148/
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Resumo: |
As experiências espirituais e religiosas (EERs) são definidas como fenômenos subjetivos relacionados à consciência de uma dimensão transcendente. Podem provocar mudanças de valores, hábitos e estilo de vida. Encontram-se na base das crenças sobre a existência da dimensão espiritual da realidade e podem apresentar características anômalas. As EERs não dependem de crenças religiosas ou espirituais específicas, mas se relacionam com elas na maneira como são interpretadas. Há evidências de que são comuns em diferentes populações, dentro de vasta gama de origens culturais. No Brasil, dados sobre sua prevalência, associação com fatores sociodemográficos, fatores de indução, processos de mudança religiosa e aspectos de saúde mental tais como ansiedade, depressão, qualidade de vida, otimismo e pessimismo ainda não foram investigados em amostras gerais amplas. Com o objetivo de preencher essa lacuna, foram investigados 16 tipos de EERs entre 1053 participantes da população geral brasileira, através de um questionário online autoaplicável, distribuído nas 5 principais regiões do país através do sistema de cotas. Foram então coletadas informações sobre religiosidade e aplicadas as escalas DUREL, Qualidade de vida (WHOQOLbreve), a PHQ9 para rastreamento de depressão e GAD7 para ansiedade, além do Teste de Orientação de vida (TOV-R). As EERs foram agrupadas em experiências místicas, mediúnicas, relacionadas a psi, experiências de memórias de supostas vidas passadas e de quase morte. A idade média da amostra final foi de 40,8 anos, com respondentes de nível socioeconômico e educacional superior à média da população brasileira. As EERs mostraram-se altamente prevalentes; aproximadamente 92% da amostra teve EERs pelo menos uma vez na vida e 47,5% referiu ter pelo menos uma experiência frequentemente. As EERs foram mais prevalentes em mulheres, mas não se associaram com renda, educação, situação de emprego e etnia. A idade avançada mostrou-se associada apenas a experiências místicas frequentes. Os respondentes reportaram ter pelo menos uma experiência mística com frequência em 35% dos casos, enquanto no grupo de experiências psi, esse percentual foi de 27,7%, seguido pelo grupo mediúnico, com 11%. As experiências isoladas mais frequentemente vivenciadas foram: Unidade com Deus ou algo maior que o indivíduo (26,8%), Ter uma intuição sobre algo (18,6%), Ter usado a intuição para tomar uma decisão (18,0%). As EERs espontâneas mostraram-se predominantes (77,2%), mas as induzidas foram substancialmente observadas (22,7%). EERs espontâneas associaram-se a homens, católicos e pessoas com mais de 60 anos, enquanto as induzidas foram mais comuns entre kardecistas, mulheres e pessoas com idade entre 31 e 45 anos. Os experienciadores identificaram mais de um indutor relacionado às experiências, que ocorreram principalmente em estados alterados de consciência (sonho, álcool e anestesia). EERs associaram-se à maior probabilidade de conversão religiosa, mas por outro lado, ter experiências mostrou-se inversamente associado ao ateísmo/agnosticismo. Houve maior prevalência de conversão entre mulheres. As EERs mostraram-se de forma geral associadas a (e preditoras de) sintomas de ansiedade e depressão, pior qualidade de vida física e psicológica, maior disposição ao otimismo e redução do pessimismo, face à religiosidade não organizacional e intrínseca praticada pelos experienciadores. A relação entre EERs e saúde mental é multidimensional, fazendo conviver aspectos contraditórios em relação ao impacto que provocam. Nossos achados trazem implicações de ordem clínica, que são discutidas detalhadamente e confirmam a complexidade e relevância do tema para a promoção de um cuidado integral em saúde |