Mário Pedrosa e a arquitetura brasileira: autonomia e síntese das artes

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Gabriel, Marcos Faccioli
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-22062017-140409/
Resumo: A atividade do crítico de arte Mário Pedrosa (1900, 1981), talvez o maior responsável pela renovação da arte Brasileira no século XX, fez da arte autônoma a divisa de artistas, críticos e instituições no Brasil, superando o localismo ressentido e sua narração figurativa das misérias nacionais, numa síntese crítica entre o influxo externo e a experiência local. Na década de 1950, dedicou-se à crítica de arquitetura e compreendeu a arquitetura moderna brasileira, de Lúcio Costa e Niemeyer, como imbuída de espírito utópico, séria e bem preparada para uma modernização do país com integração social. Contudo, a dependência dessa arquitetura para com um Estado modernizador autoritário teria resultado num desenvolvimento desproporcional da dimensão estética voltada a propósitos de exibição de poder dos ditadores. Sua teoria da arte, teoria da \"forma primeira fisionômica\", baseava-se na psicologia da forma e na psicologia genética. A forma primeira fisionômica seria o fundo universal de todas as formas de conhecimento, espontânea e já afetivamente orientada, bem como estrutura comum à arte ocidental e às artes primitivas. A arte moderna abstrata teria como papel tornar reconhecida essa matriz universal e abrir o passo ao retorno à espontaneidade criativa e à sociabilidade da proximidade e do afeto, algo que a dominação técnica da natureza tornara possível, bastando que se abandonassem preconceitos. Esta concepção procedia também da utopia estética da síntese das artes, criada pelo compositor Richard Wagner no séc. XIX, a qual considerava artificial a separação entre a necessidade material e a necessidade do espírito. A necessidade seria mesmo o motor de toda a atividade criativa e produtiva humana, que recaíra no egoísmo e no conflito por insuficiente dominação da natureza. Caberia ao mundo moderno, da indústria e da técnica, realizar o retorno à comunidade e à unidade originárias, para o que a arquitetura seria a arte a harmonizar todas as outras artes numa formalização total do ambiente. Contudo, em meados dos anos de 1950 o projeto pedrosiano fraquejava sob o impacto das correntes artísticas informalistas e expressionistas abstratas, as quais demonstravam ou pessimismo ou interesse filisteu em vez de fé na emancipação universal franqueada pela dominação técnica da natureza. O crítico promoveu, então, a arquitetura moderna brasileira por sua fé nas \"virtualidades democráticas da produção em massa\" e a construção de Brasília como a finalidade coletiva que canalizaria a estética à construção redentora da autonomia nacional e exemplo para o mundo. Seu ideal de síntese levou-o a uma paradoxal formulação da arquitetura - arte abstrata autônoma, cuja apreciação, porém, condicionava à consecução de finalidades sociais. Sua crítica de arte da arquitetura foi tímida e terminou abandonada quando a Brasília dos políticos e das empreiteiras derrotou a utopia. Concluímos, então, que a autonomia das finalidades humanas significa que estas não se reduzem a uma origem comum, a necessidade. A arte autônoma como meio para a utopia significa que esta se volta contra a arte e a arquitetura autônomas, e encobre seu impasse final trocando a felicidade para todos pela menor dor para o maior número.