Escravos e guerreiros: trabalho uberizado e políticas da crise no Brasil (2015-2021)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Barros, Caetano Patta da Porciuncula e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-05102022-104409/
Resumo: Motoristas e entregadores de aplicativos constituem grupos de trabalhadores precarizados, cujas trajetórias, rotinas e formas de mobilização estão relacionadas com a crise política e econômica brasileira iniciada em meados da década de 2010. Esta dupla crise articula o neoliberalismo e o regime democrático, em suas dinâmicas contemporâneas. A presente tese propõe investigar como os regimes uberizados de trabalho e seus mercados constituem dispositivos de recomposição da acumulação de capital e, ao mesmo tempo, participam do processo de legitimação e governo de sociedades com altos índices de desemprego, endividamento, frustração e incertezas. A partir de uma pesquisa de caráter qualitativo e exploratório, identifica-se, no cotidiano destas formas de trabalho, relações e percepções que vão além do âmbito imediato destes mercados, com empresas e consumidores, prolongando-se na responsabilidade pelos meios de trabalho, nos vínculos familiares, nas relações com agentes de Estado, em situações de insegurança e violência nas cidades e nos vínculos entre os próprios trabalhadores, em ambiente urbano e digital. Foi observado que a uberização compreende: uma tensão entre autonomia e subordinação; fatores de avaliação e julgamento moral, internos e externos, associados à sua operação; ameaças de desclassificação do trabalhador; e um caráter excedente, descartável e sem garantias da força de trabalho. Sustenta-se, assim, que o fenômeno agencia sentidos presentes em formas históricas e estruturais de precariedade, identificadas em diferentes ciclos de expansão capitalista no Brasil. Esta continuidade histórica implica o tratamento indissociável de dimensões raciais e gerenciais do trabalho no contexto nacional, desde o período colonial e escravista. Os conflitos característicos do trabalho uberizado são elaborados por estes sujeitos de forma coletiva e inscritos publicamente, o que foi acompanhado em seus espaços de articulação, como reuniões, protestos e ambientes virtuais. Tais intervenções, de caráter urgente e imediato, centram-se na defesa da vida, bem como da necessidade e da liberdade para trabalhar uma política que precede o direito. Estas formas e discursos políticos imprevistos desestabilizam procedimentos representativos e dos campos normativos e discursivos da política e da ordem, configurando-se como fatores de crise. Suas ações impõem temas e problemas em diferentes instâncias do Estado, do mercado e da sociedade, deslocando a atuação de outros atores e participando da reconfiguração de coalizões e composições políticas