O vivido, o revivido e os possíveis do desenvolvimento em diálogo: um estudo sobre o trabalho do professor de FLE com os conteúdos culturais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Silva, Emily Caroline da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-29062015-125936/
Resumo: Esta dissertação tem por objetivo estudar a maneira como os professores de francês língua estrangeira (FLE) trabalham os conteúdos culturais em suas aulas através de uma análise de textos orais de entrevistas sobre o trabalho. De maneira mais específica, propomo-nos a identificar as representações construídas nos e pelos textos (BRONCKART, 2006) dos professores sobre a pertinência ou a necessidade que eles têm (ou não) de abordar os conteúdos culturais em aulas de língua estrangeira. Escolhemos investigar o trabalho de ensino dos conteúdos culturais, porque, apesar de ser um tema amplamente explorado pelas teorias em Didática das Línguas e Culturas, trata-se de um objeto complexo do ponto de vista de sua implementação nas aulas de línguas (BYRAM, 2011), sendo por esta razão um dos dilemas do trabalho do professor de FLE. Para compreender essa questão a partir da ótica dos próprios professores, realizamos nosso estudo em um contexto de um curso livre de francês em extensão universitária. Fizemos uso de um método de intervenção formativa, a autoconfrontação (CLOT, FAÏTA, 2000), em que convidamos dois professores a assistirem e comentarem vídeos de suas aulas, possibilitando assim que eles verbalizassem sobre sua experiência vivida. O quadro teórico maior deste estudo se baseia em algumas das teses Vygotski (1934/1997; 1925,1930/2004), desenvolvidas e ampliadas no Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2006; BULEA, 2010) no diz respeito à questão do agir e da linguagem. Considerando o ensino como trabalho, inspiramo-nos em pesquisas brasileiras oriundas dessa perspectiva (MACHADO, 2004; LOUSADA, 2006; BUENO, 2007; GUIMARÃES et al, 2007; MACHADO et al, 2011; DANTASLONGHI, 2013), contando também com aportes teóricos também da Clínica da Atividade (CLOT, 1999, 2001, 2008), da Ergonomia da Atividade (FAÏTA, 1997; 2011; AMIGUES, 2002, 2004; SAUJAT, 2004). O corpus desta pesquisa consiste em um recorte da transcrição da entrevista em autoconfrontação cruzada e um recorte de um documento prescritivo do agir dos professores, ambos referentes ao trabalho com os conteúdos cutlurais. As análises se basearam no modelo de análise de textos do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006) acrescido de outras categorias (BULEA, 2010; MAINGUENEAU, 2001; AUTHIER-REVUZ, 2001; LOUSADA, DANTAS-LONGHI, 2014; ROCHA et al, 2002; BRONCKART, MACHADO, 2004). Os resultados mostraram que, diante de prescrições difusas e imprecisas sobre o trabalho prático com os conteúdos culturais em sala de aula, os professores se valeram muito mais de suas experiências para definir esse trabalho, representando-o como algo multifatorial, no qual entram em jogo a ação dos alunos, dos professores, o objeto de ensino e os instrumentos. Os professores representaram os conteúdos culturais como pertinentes, como algo ligado à reflexão; entretanto, em sua prática, outros fatores interferiram e influenciaram seu trabalho, como a prescrição de se trabalhar a gramática ou a relação do conteúdo gramatical com o conteúdo cultural. Dentre as contribuições, destacamos que a pesquisa corrobora a ideia da autoconfrontação enquanto método propiciador do desenvolvimento, uma vez que foi possível identificar, através dos indícios de tomada de consciência, que o vivido nas aulas e revivido nas entrevistas pode devolver aos professores seu poder de agir, abrindo caminhos para os possíveis do desenvolvimento.