Resumo: |
O tráfico interno de escravos foi um dos mecanismos de reprodução da escravidão negra nas Américas e deu origem a mercados nacionais e regionais de escravos. No Império do Brasil, foi redimensionado e potencializado após o fim do tráfico transatlântico (1850), deslocando compulsoriamente milhares de escravos dentro do território nacional todos os anos, em escalas interprovincial, intraprovincial e local. Esta tese analisa as características e o funcionamento do tráfico interno em uma região específica, no Vale do Amazonas, entre 1840, momento de mudanças econômicas e políticas relacionadas ao fim do movimento cabano, e 1888, ano da abolição da escravidão. A região, que correspondia às províncias do Pará e do Amazonas (desmembrada da primeira em 1850), foi desconectada precocemente das redes do tráfico transatlântico (o último desembarque aconteceu em 1841, o que também explica o recorte temporal), mas se manteve com população escrava estável ao longo de todo o século XIX. Busca-se mostrar que essa estabilidade esteve relacionada à tradição escravista da região, à contínua demanda por escravos na dinamizada e diversificada economia regional (conectada à economia mundial capitalista do século XIX) e à política da escravidão no Império do Brasil; e que, se foi garantida pela reprodução natural ou endógena da população (até 1871, ano de promulgação da Lei do Ventre Livre), também foi pelo tráfico interno em escalas local e intraprovincial, composto por transações realizadas no âmbito de um mercado amazônico de escravos. A análise, ao conectar aspectos regionais, nacionais e globais, conduz a tese para a relação entre o tráfico interno, a escravidão negra e o capitalismo. Argumenta-se que, enquanto elemento estrutural da instituição escravista, o tráfico, num primeiro momento, viabilizou a continuidade da mesma, mas, posteriormente, contribuiu para sua derrocada. Para tanto, a pesquisa se assentou na crítica, problematização e/ou quantificação de jornais, documentos do Poder Judiciário, documentos diversos produzidos em outras esferas estatais e documentos cartoriais (com destaque para as escrituras de venda de escravos). |
---|