Alterações comportamentais e eletrofisiológica subjacentes à expressão de preferência e tolerância condicionada ao contexto induzidas por morfina

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Paliarin, Franciely
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59134/tde-07052020-165306/
Resumo: Vários fatores contribuem para a transição do uso recreativo para o uso compulsivo de opiáceos, assim como de outras drogas de abuso. Esta mudança se dá em função da característica reforçadora positiva da droga, encontrada nos estágios iniciais da sua utilização, e posteriormente, por sua característica reforçadora negativa alcançada após sua ingestão crônica, momento no qual a droga é ingerida como forma de aliviar os sintomas desagradáveis gerados a cada vez que seu consumo é interrompido. Em indivíduos dependentes, o desejo pela droga, evocado tanto por pistas contextuais ou pelo contexto em si (craving), e a abstinência, contribuem fortemente para a manutenção de seu consumo e recaída após um período de abstinência. O sistema encefálico de recompensa tem um papel preponderante na modulação destes comportamentos. Neste sistema, opioides como a morfina, que naturalmente induzem euforia e sensação de relaxamento, dentre outros efeitos, apresentam também a propriedade de induzir sua busca e consumo, após um período prolongado de uso. Consequentemente, esta droga pode modular de forma potente processos associativos ligados à memória e aprendizagem, e fortalecer grandemente a memória associada ao contexto relacionado aos efeitos reforçadores da droga, fenômeno que está subjacente à sua busca compulsiva, mesmo em face de suas consequências notadamente adversas. A técnica de condicionamento de preferência ao lugar pode ser utilizada para simular o desenvolvimento de um estado de dependência, aí incluídas as fases de aquisição, extinção e reestabelecimento (reinstatement), o que ressalta sua importância na avaliação dos efeitos da morfina, e outras drogas, na dependência crônica. Esta preferência pode resultar de alterações eletrofisiológicas em áreas encefálicas vinculadas ao controle da resposta motivacional, que se expressaria na capacidade do organismo de filtrar estímulos sensoriais do meio que não tenham caráter relevante, seja durante a expressão de comportamentos motivados relacionados à droga ou à extinção destas memórias. Os potenciais evocados auditivos (PEAs) podem ser modificados por aprendizagem associativa quando surgem respostas compensatórias aprendidas baseando-se na abstinência e recaída da droga. Contudo, embora a modulação tardia cognitiva e atencional do processamento da informação sensorial tenha sido bastante estudada, os mecanismos pré-atentivos que ocorrem nos estágios iniciais do processamento da informação sensorial relacionados ao efeito de drogas e sua associação com o contexto permanecem amplamente inexplorados. Objetivando uma avaliação das possíveis alterações eletrofisiológicas tanto precoce (colículo inferior) quanto tardia (córtex pré-límbico) concomitante à expressão de preferência condicionada ao lugar induzida por morfina e para entender a influência do sistema opioide nos estágios iniciais da informação auditiva, foi elaborada uma série de cinco experimentos nos quais foram testadas as habilidades da morfina, em diferentes doses, em produzir, preferência, aversão, tolerância comportamental e tolerância fisiológica, utilizando um procedimento de preferência condicionada. Estes resultados mostram que, apesar da ausência de eventos comportamentais, uma administração a curto prazo de uma dose baixa de morfina pode mudar precocemente o processamento de informações dos estímulos auditivos sensoriais no CIC. Além disso, boa parte dos efeitos da morfina resulta em tolerância comportamental e eletrofisiológica. Esses dados indicam que, mesmo na falta de manifestações comportamentais, o aparecimento de potenciais evocados coliculares compensatórios podem sinalizar o primeiro passo no desenvolvimento de dependência de drogas.