Avaliação de pacientes com puberdade precoce central após o tratamento com análogos de GnRH: aspectos antropométricos, metabólicos, reprodutivos e psicossociais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Ramos, Carolina de Oliveira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5135/tde-06072020-163149/
Resumo: A puberdade precoce central (PPC) resulta da reativação prematura (antes dos oito anos nas meninas e dos nove anos nos meninos) do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal e pode ser decorrente de lesões orgânicas no sistema nervoso central, de defeitos genéticos, ou classificada como idiopática (PPCI), quando a causa não é conhecida. A PPCI representa a maioria dos casos, principalmente no sexo feminino. As mutações inativadoras no MKRN3 representam a causa genética mais comum de PPC familial. Hamartoma hipotalâmico é a causa orgânica mais conhecida de PPC em ambos os sexos. Os análogos de GnRH de ação prolongada (aGnRH) são o tratamento de escolha da PPC. Embora diversos estudos tenham reportado os efeitos do tratamento da PPCI com aGnRH, há escassez de dados de pacientes com PPC causada pelo HH (PPC-HH) e não há relatos sobre os pacientes com PPC de causa genética após tratamento com aGnRH. Os objetivos deste estudo foram avaliar os parâmetros antropométricos, metabólicos, reprodutivos e psicossociais de pacientes com PPCI, PPC genética e PPC-HH após o tratamento com aGnRH. Trata-se de um estudo multicêntrico, retrospectivo e longitudinal de uma coorte de 92 pacientes, 43 PPCI (43 F), 35 PPC genética (34 F: 1 M) e 14 PPC-HH (7 F: 7 M), sendo o grupo PPC genética composto por 29 (F) pacientes com mutação no MKRN3, 4 (F) pacientes com mutação no DLK1, 1 (F) paciente com mutação ativadora no KISS1 e 1 (M) paciente com mutação ativadora no KISS1R. Todos os pacientes foram tratados exclusivamente com aGnRH de uso mensal ou trimestral. Setenta e um pacientes [43 PPCI (43 F), 17 PPC genética (16 F: 1 M) e 11 PPC-HH (5 F: 6 M)] atingiram a altura final (AF) e foram submetidos a avaliações clínicas, laboratoriais, de imagem e aplicação de um questionário psicossocial. Todas as pacientes, exceto uma, do grupo PPCI, e uma do grupo PPC causada por mutação no MKRN3 atingiram AF normal [161,4 cm ± 6,6 cm (DP: -0,2 ± 1,1) e 157,6 cm ± 5,1 cm (DP: - 0,7 ± 0,9), respectivamente], dentro do intervalo da altura alvo (AA). A prevalência de sobrepeso e obesidade na AF foi 33,4% e 27,2% nos grupos PPCI e PPC causada por mutação no MKRN3, respectivamente. Não houve diferença na prevalência de distúrbios metabólicos entre os grupos. O intervalo médio entre a suspensão do tratamento com aGnRH e a ocorrência da menarca foi 1,1 ano ± 0,5 ano e 0,9 ano ± 0,7 ano nos grupos PPCI e PPC causada por mutação no MKRN3, respectivamente. A prevalência de síndrome dos ovários policísticos (SOP) foi semelhante nos dois grupos (5,9% vs. 9,1%; p > 0,05). No subgrupo de pacientes com PPC causada por mutação no DLK1, três de quatro pacientes xvii apresentaram AF dentro do intervalo da AA. A prevalência de sobrepeso e obesidade foi 50%, três quartos das pacientes apresentavam resistência insulínica e dislipidemia. O intervalo entre a suspensão do tratamento com aGnRH e a menarca foi 0,5 ano ± 0,2 ano. Além disso, todas as pacientes referiram ciclos menstruais regulares, sem preencher os critérios para diagnóstico de SOP. No grupo PPC-HH, 11 dos 14 pacientes atingiram a altura final normal, 174, 5 cm ± 6,9 cm (DP: 0 ± 0,8) nos homens e 162,5 cm ± 5 cm (DP: 0 ± 0,9) nas mulheres, todos dentro do intervalo da AA. Os três pacientes que não atingiram a AF apresentavam previsão de AF dentro do intervalo da AA. A média do IMC e o percentual de massa gorda corporal foram significativamente maiores no sexo feminino (31% ± 5,4% e 39,3% ± 4,3% nas mulheres e 20,7% ± 1,9% e 8,5% ± 4,5% nos homens, respectivamente), com maior prevalência de distúrbios metabólicos (hipercolesterolemia e resistência insulínica) nas mulheres. Todos os pacientes apresentaram função gonadal normal na idade adulta. A formulação do aGnRH, de uso mensal ou trimestral, não influenciou os desfechos após o tratamento. Trinta e sete pacientes com PPC preencheram o questionário psicossocial que revelou uso de álcool em 40,1%, tabaco em 3,7% e drogas ilícitas em 3,7%. A média da idade da primeira relação sexual no sexo feminino foi 15,8 anos e no sexo masculino foi 15,5 anos. Concluímos que (i) o tratamento de pacientes com PPC de todas as etiologias com aGnRH se mostrou efetivo e seguro, resultando na preservação do potencial genético de altura final; (ii) houve redução do percentual de sobrepeso e obesidade e baixa prevalência de alterações metabólicas e síndrome dos ovários policísticos nesta coorte de pacientes com PPCI e PPC causada por mutação no MKRN3 após o tratamento com aGnRH, sugerindo que o defeito genético não tenha influenciado os parâmetros antropométricos, metabólicos e reprodutivos; (iii) o subgrupo com PPC causada por mutação no DLK1 apresentou maior prevalência de sobrepeso e obesidade e de gordura corporal com maior prevalência de alterações metabólicas; (iv) as pacientes do sexo feminino com PPC-HH apresentaram parâmetros antropométricos e metabólicos desfavoráveis, com maior prevalência de sobrepeso, aumento de gordura corporal e dislipidemia; (v) a função reprodutiva foi preservada em todos os grupos etiológicos, indicando que o bloqueio puberal é transitório e reversível; (vi) os desfechos psicossociais foram semelhantes nos pacientes com PPC tratados com aGnRH em relação à população geral