Estupro na imprensa: o processo de trabalho de jornalistas e profissionais de direito na cobertura do caso Roger Abdelmassih pelo jornal Folha de S.Paulo (2009-2015), na perspectiva de estudos de jornalismo, da legislação e das práticas do Poder

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Monteiro, Lieli Karine Vieira Loures Malard
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27153/tde-22092016-142659/
Resumo: Esta pesquisa parte da leitura de uma cobertura jornalística e desvenda o processo de produção das notícias e as condições de sua veiculação, com mediações dos estudos de jornalismo, estudos de direito e dos estudos de gênero. Iniciamos com a análise empírica do conteúdo jornalístico produzido pelo jornal Folha de S.Paulo entre janeiro de 2009 e maio de 2015, sobre os acontecimentos relacionados à investigação, ao julgamento, à fuga e à prisão de Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana assistida condenado a 278 anos de prisão por cometer crimes contra a dignidade sexual de 37 pacientes. O processo de leitura colocou-nos interrogações sobre a cobertura jornalística. Em busca de respostas, entrevistamos jornalistas e profissionais do direito envolvidos no caso e constatamos diferenças e relações de interdependência no trabalho deles, que condicionam os acontecimentos em 1) fatos jurídicos culminados em processos de caráter privado na Justiça e 2) em fatos jornalísticos culminados em informações traduzidas em textos publicáveis na imprensa, conforme demonstramos no Capítulo 2 desta dissertação. Estudos de jornalismo apontam as limitações do fazer jornalístico e sua inserção na vida cotidiana e o processo de repetição do senso comum que pode ser desafiado em condições especiais (MORETZSHON, 2007). Mas pesquisa da feminista (SEGATO, 2003) destaca a importância da informação veiculada pela imprensa para a defesa dos direitos das mulheres. Estudos de gênero rastreiam a construção dos estereótipos de gênero e a ordem patriarcal de gênero que embasam valores morais a partir dos quais são forjados os estigmas e preconceitos que atingem as vítimas de estupro (SAFFIOTI, 2015). Na análise de conteúdo do jornal Folha de S.Paulo, constamos uso de termos inadequados para nominar vítimas e agressor, erros jurídicos e julgamentos morais impertinentes ao caso. Essas visões dominantes e equivocadas sobre as vítimas de estupro precisam ser desconstruídas por outro modo de fazer jornalismo. Esta pesquisa nos mostrou que, ao descolar-se dos fatos jurídicos, a cobertura jornalística confinou no universo privado a violência sexual. Deixando de tratá-la como questão de saúde pública, não promoveu a divulgação de informações que poderiam contribuir para a construção da cidadania das mulheres.