Meninas e meninos no recreio: gênero, sociabilidade e conflito

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Cruz, Tânia Mara
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-21012011-152310/
Resumo: O objetivo deste estudo foi compreender o conflito nas relações de gênero entre crianças das 1as às 4as séries. Em um recreio escolar procurei captar de que modo as culturas infantis eram ali produzidas e como se relacionavam com a cultura adulta. A escassez de pesquisas brasileiras levou-me a privilegiar a literatura internacional. O problema de pesquisa configurou-se da indagação sobre os mecanismos de interação e de organização grupal no recreio, que pareceu-me ocorrer numa forma conflituosa de relacionamento entre meninos e meninas. A etnografia serviu como mediação metodológica e ética na pesquisa construída a partir de diferentes enfoques disciplinares: a psicologia, a sociologia e a antropologia. A observação e as entrevistas resultaram no material de trabalho a ser analisado. No ano de 2001, realizei 28 registros de campo, sobre o recreio em que circulavam 240 crianças. No final desse ano assisti a 40 aulas de 50 minutos, distribuídas pelas quatro turmas de 3as e 4as séries, e priorizei as aulas de educação artística e educação física, por realizarem mais atividades grupais. Entrevistei 55 das 120 crianças das 3as e 4as séries. Estabeleci a diferença entre os conflitos como estratégias de aproximação e os que significavam rupturas e oposições. Para isso, foi preciso observá-los em seus contextos, os resultados produzidos, a disposição das crianças (palavras, gestos, olhares) e, através dessa complexidade, compreender suas significações. Foi necessário definir os conceitos de conflito, de agressividade, de violência e de lúdico, e incluir o conceito de jogos de gênero, para viabilizar a análise das cenas lúdico-conflituosas. Sobre essa forma de interação construí a hipótese de sociabilidade do conflito, caracterizada por distanciamento entre os sexos nos momentos amistosos e aproximação proposital nos momentos conflituosos. Trabalhei sobre três eixos de ações: atividades turbulentas; episódios de invasões; provocações verbais e físicas, aqui incluídos os xingamentos produzidos pelos garotos, e os tapas, pelas garotas. Numa forma diferenciada, que designei como regulamentação das relações de gênero, estavam as experiências dos clubinhos, que organizavam amistosamente o distanciamento ou a aproximação entre os sexos. O clubinho era um tipo de organização grupal baseado em regras construídas pelas crianças, visando à aproximação ou separação entre os sexos, em parte similar a experiências de rua presentes na cidade de São Paulo em outras épocas, analisadas por outros autores. Vários aspectos permearam as relações de gênero ali encontradas: a importância da linguagem, a interligação entre cultura lúdica, infância e escola, a gestão dos espaços, as políticas de sexualidade e de vivência corporal. Os resultados apresentam as particularidades de uma cultura infantil e sua produção/reprodução das relações de gênero, e a escola como um espaço contraditório capaz de, se o desejar, compreender as necessidades infantis encontradas e desenvolver ações direcionadas a elas, contribuindo para que a vivência cotidiana inclua a crítica às desigualdades sociais e aos preconceitos em relação às questões de gênero e às demais diferenças.