Violências e mortes: um olhar etnográfico das práticas e estratégias cotidianas das equipes periciais do Instituto de Criminalística do município de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Carvalho, Greice Petronilho Prata
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6143/tde-15082019-170226/
Resumo: Introdução - A morte violenta permeia o cotidiano do cidadão brasileiro, assim como o cotidiano laboral das equipes da perícia criminal do município de São Paulo. Os servidores forenses têm como atribuição representar o Estado na execução pericial dos locais de crimes envolvendo vítimas humanas. Objetivo - Compreender as práticas cotidianas do trabalho pericial, identificando a percepção dos fatores de risco e as estratégias de trabalho imbuídos no atendimento pericial da morte violenta. Métodos - Pesquisa qualitativa com perspectiva etnográfica. Os registros empíricos são oriundos das anotações etnográficas em diário de campo de 61 locais de crimes periciados pela equipe de peritos criminais e fotógrafos técnico-periciais do Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa do Instituto de Criminalística do município de São Paulo. Entrevistas individuais semiestruturadas foram realizadas com 28 servidores periciais. De modo complementar, aplicou-se um formulário para caracterização sociodemográfica dos participantes. Reportagens veiculadas nas mídias digitais e impressas foram utilizadas como dados secundários. Os dados foram analisados por meio de codificação temática. Para tal, utilizou-se o software MAXQDA, versão 18. Resultados - As naturezas criminais predominantes nas requisições periciais foram: morte suspeita, suicídio e homicídio de autor conhecido. A idade dos participantes variou entre 28 e 65 anos, e o tempo de experiência na perícia variou entre 1 e 31 anos. O perfil do público foi predominantemente do sexo masculino, casado com filhos e possuidor de alguma crença religiosa. O treinamento profissional fornecido pelo Instituto de Criminalística variou de 3 a 12 meses. Com relação à pesquisa empírica, a codificação do material nos conduziu a quatro categorias temáticas: 1) A atividade do trabalho pericial; 2) Crimes periciados; 3) Violência naturalizada; 4) Amplificação da violência pela mídia. Os relatos e as observações em campo revelaram práticas cotidianas de um trabalho perigoso e insalubre nos sentidos biológico e psíquico. Ao lidarem com o corpo da vítima de violência letal, as equipes são expostas à vitimização direta e indireta. Atuam em escalas de trabalho extensas, com déficit de servidores, tempo de recuperação curto e relatos de presenteísmo. A falta de transparência no planejamento da carreira forense somada aos significados de ser policial forense foram mobilizadores de sentimentos e ressignificados ao longo da trajetória profissional. Fatores de risco foram revelados, como: riscos associados à categoria policial; antevisão do processo de morrer ao se sentirem suscetíveis à naturalização da violência urbana; amplificação da violência pela mídia, que reverbera discursos estereotipados sobre a ação policial e sobre os \"bandidos\", incitando o ódio; manifestação de sentimento de não reconhecimento institucional. Os participantes revelaram que criam estratégias visando conciliar tais dimensões com a manutenção de sua saúde, sendo elas: sublimação, desconstrução do herói, uso do humor cítrico, distanciamento e não pertencimento à realidade da periferia e valorização da vida em sua simplicidade. Conclusão - Atuar na perícia criminal exige que o trabalhador desenvolva estratégias coletivas e individuais constantemente, pois a violência e os crimes não são estáticos. O Instituto de Criminalística vivencia uma reestruturação em seu organograma que impacta diretamente a operação pericial. Faz-se necessário oferecer ações psicológicas preventivas e treinamento contínuo aos servidores periciais no sentido de manter a saúde desses trabalhadores.