Análise da demanda e da oferta de oleaginosas no estado de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1974
Autor(a) principal: Carmo, Maristela Simões do
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240522-110327/
Resumo: Investigações econométricas de demanda e oferta de produtos agrícolas constituem-se em valiosas contribuições para formulação de políticas desenvolvimentistas. A quantificação das variações de quantidades consumidas e ofertadas em função dos preços relativos, reveste-se em material estatístico de grande eficácia no estudo das relações de mercado. Esta pesquisa teve como objetivo geral estimar as relações estruturais da oferta e demanda do amendoim, soja e algodão, para o Estado de São Paulo, durante o período de 1949/69. Essas funções foram estimadas através de duas técnicas econométricas distintas: o método dos quadrados mínimos ordinários e o método dos quadrados mínimos em dois estágios, com a finalidade de comparar os resultados obtidos, pois é esperado que o uso de dois estágios no ajustamento de modelos simultâneos, conduza a estimadores mais precisos dos parâmetros da regressão. De posse das equações estimadas, foram calculadas as elasticidades das variáveis mais importantes nas funções. Para a oferta foi observada a especificação de Nerlove no ajustamento da curva, o que possibilitou a obtenção das elasticidades a curto e longo prazo. Delineadas as relações estruturais de mercado para essas oleaginosas, foi feito ainda um exame da estabilidade do sistema mediante um esquema tipo Teia de Aranha. A informação estatística básica no estabelecimento dessas relações foi proveniente de diversas fontes, constituindo-se de valores anuais, abrangendo um período de 21 anos. A maioria dos dados foi coletada no Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. O modelo geral na estimativa das relações estruturais da demanda foi: onde: Zt = a0 + a1w1 + a2w2 + ... + akwk + &#949;, onde Zt = consumo anual por habitante, ano t; a0 = intersecção; a1, ..., ak = parâmetros das variáveis independentes; w1 = preço do produto no ano t; w2, ..., wk = outras variáveis explicativas; &#949; = erro aleatório. A formulação com retardamentos distribuídos, utilizado para oferta, pode ser representado: onde: Yt = produção anual no ano t; b0 = intersecção; b1, ..., bk = parâmetros das variáveis independentes; Yt-1 = produção anual no ano t - 1; x2 = preço do produto no ano t - 1; x3, ..., Xk = outras variáveis explicativas; &#949; = erro aleatório. No ajuste empírico das equações múltiplas, foram empregados tanto os valores observados como os logarítmos das variáveis. Para verificação da hipótese de independência serial dos resíduos, foi utilizado o teste de Durbin-Watson para a função consumo, sendo que para a oferta foram aplicados mais dois testes alternativos baseados nas mudanças de sinais do resíduo estimado, o teste de Geary e o de aleatoriedade que emprega a aproximação da curva normal. Exceto para a cultura do algodão, que envolve relações mais complexas no mecanismo oferta e procura, o amendoim e a soja apresentaram resultados coerentes com a teoria. As equações representativas da estrutura de mercado do amendoim estão em escala aritmética e da soja em escala logarítmica, sendo que para ambas as culturas, os resultados dispostos a seguir foram procedentes dos ajustes simultâneos em dois estágios. AMENDOIM: Demanda: z1t = - 101,6596 - 0,0775 w&#770;1 + 0,1600 w2 + 7,1960 w4 + 0,0195 w6 + (-2,9947) (3,4432) (2 ,2541) (1,9065) + 0,6213 w7 (2,2782) R2 = 0,82 DW = 1,97 F = 13,35 Oferta: Y1t = 129,4002 + 0,4401 Y1t-1 + 0,7062 x1 - 0,9871 x2 - 50,2622 x6 + (3,0446) (4,3771) (-2,2088) (-1,8912) + 0,1656 x11 + 11,7581 x17 (3,4432) (2,6409) R2 = 0,97 DW = 1,94 U = 14 F = 74,92 SOJA: Demanda: log Z2t = 7,1671 - 6,9915 log w&#770;2 + 1,0030 log w3 + 5,6117 log w7 (-3,7473) (1,8850) (5,3812) R2 = 0,81 DW = 1,30 F = 24,80 Oferta: log Y2</supt = 2,3964 + 0,5763 log Y2</supt-1 + 1,2104 log x2 - 1,9577 log x3 + (3,4175) (0,8107) (-1,9641) + 0,4389 log x17 (2,0526) R2 = 0,89 DW = 1,38 U = 9 F = 32,15 onde: Z1t = consumo de amendoim, em kg/habitante, ano t; Y1t = produção de amendoim, em mil toneladas, ano t; Ytt-1 = produção de amendoim em mil toneladas, ano t - 1; Z2t = consumo de soja, em kg/habitante, ano t; Y2t = produção de soja, em mil toneladas, ano t; Y2t-1 = produção de soja, em mil toneladas, ano t ? 1; w&#770;1 = preço estimado do amendoim, com Cr$ de 1969/ton, ano t; w2 = preço real da soja, em Cr$ de 1969/ton, ano t; w&#770;2 = preço estimado da soja, em Cr$, de 1969/ton, ano t; w3 = preço real de óleo de caroço de algodão, em Cr$ de 1969/kg, ano t; w4 = preço real da banha, em Cr$ de 1969/kg, ano t; w6 = renda real interna de São Paulo, em Cr$ de 1969/habitante, ano t; w7 = grau de urbanização da população paulista, em porcentagem; X1 = preço real do amendoim em Cr$ de 1969/ton, ano t - 1; X2 = preço real da soja em Cr$ de 1969/ton, ano t -1; X3 = preço real do algodão em caroço, em Cr$ de 1969/ton, ano t - 1; X6 = salário agrícola em Cr$ de 1969/dia, ano t; X11 = total de chuva para a cultura do amendoim, em mm; X17 = tendência, em anos; R2 = coeficiente de determinação; DW = teste de Durbin-Watson; F = teste ?F?; U = número de mudanças de sinais nos resíduos calculados. Os valores entre parênteses correspondem ao teste ?t?. A maior parte dos parâmetros foi significativa aos níveis convencionais, e os problemas referentes à multicolinearidade e autocorrelação residual, não se apresentaram graves. O método dos quadrados mínimos ordinários, levou à subestimação de quase todos os parâmetros das equações ajustadas, exceção feita apenas à variável urbanização para a função consumo de soja. No cálculo dos coeficientes de elasticidade para as equações obtidas a partir das observações originais, considerou-se valores de 1950, 1960 e 1969, além da média de todas as observações, possibilitando uma análise intertemporal das elasticidades. Porém as inferências relativas às elasticidades foram feitas para a média do período 1949/69, considerando os modelos simultâneos como os mais adequados por oferecerem estimativas consistentes dos parâmetros. No caso das equações na forma logarítmica, os parâmetros estimados fornecem diretamente as elasticidades constantes durante todo o período estudado, impedindo portanto, uma análise de caráter evolutivo para esses valores. As conclusões obtidas da pesquisa podem ser resumidas em: Amendoim : - O produto apresentou uma demanda preço-elástica e a relação de oferta delineou-se relativamente inelástica a curto prazo, passando à elástica em prazo mais longo; - Analisando a evolução da elasticidade preço, tanto para a oferta quanto para a demanda, verificou-se diminuições gradativas nos valores encontrados com o decorrer do tempo. Para a oferta, as relações passaram a níveis inelásticos; - O grau de urbanização influenciou numa relação direta o consumo de amendoim; - O produto evidenciou relações de bem normal quanto aos efeitos de variações na renda real por habitante; - A banha e a soja mostraram-se sucedâneos no consumo da leguminosa; - A produção defasada, a precipitação pluviométrica, a tendência e o preço do produto, influenciaram diretamente a produção em níveis altamente significativos; - A soja foi alternativa no cultivo de amendoim; - O custo da mão-de-obra manteve relações inversas no processo produtivo da cultura, indicando que quando se aumentam os salários agrícolas, a produção de amendoim tende a diminuir. Soja: - A função demanda de soja apresentou valores elevados para a elasticidade preço, acusando grande participação relativa do preço nas decisões para consumo. A oferta registrou valores elásticos tanto a curto como a longo prazo; - O Óleo procedente do caroço de algodão manteve relações substitutivas no consumo de soja; - A urbanização, numa relação direta com o consumo, foi a variável que mais influenciou a procura de soja, absorvendo parcela do efeito relativo à renda ?per capita? que não compareceu no modelo; a produção defasada foi a variável de explicação mais significante na função oferta, seguida do preço do algodão e da tendência; - O algodão atestou uma relação inversa com a produção de soja, na concorrência pelos fatores produtivos. - A variável tendência, incluída no modelo para captar os efeitos sistemáticos de outras variáveis ausentes da regressão, assinalou relação direta com a oferta de soja. Algodão: Quanto aos resultados obtidos para o algodão, foram apresentadas no texto, as equações múltiplas de oferta e demanda a partir dos quadrados mínimos comuns, apesar da pouca confiança em relação aos parâmetros estimados. O modelo elaborado foi considerado muito simples na descrição do mercado para essa malvácea e foi proposto a título de sugestão para novas pesquisas, o ajustamento concomitante das seguintes equações: Demanda Relações Econômicas: 1. Demanda interna para fibras têxteis. Qfd = F(Pfd, Ps, R, U, t). 2. Demanda externa para fibras têxteis. Qfe = F (IR, Qfd, Pfd, Pfi, Ps, t). 3. Demanda interna para óleo de algodão. Qod= F(Po, Pos, R, U, Pmg, t). 4. Demanda externa para óleo de algodão. Qoe = F(Po, IR, Qos, Poi, t). 5. Demanda interna para torta de algodão. Qtd = F(Pta, Pts, Qgd, Qld, t). 6. Demanda externa para torta de algodão. Qte F(Ptai, Pta, Qtd, Qgi, Qli; QGi, t). Relações de Identidade, 7. Qfd = Y(1-p) 8. Qod = Qce. rdo 9. Palc = Pfd . rdf + Po. rdo + Pta . rdt - V. Oferta Relações Econômicas 10. A = F(Ad, Rd, Pal, Pa, t) 11. Rd = F(A, Pal, Pa, Ipf, Ifc, t) Relação de Identidade 12. Y = A . Rd. Definição das Variáveis *Qfd = quantidade de fibras no mercado doméstico. *Qfe = quantidade de fibras exportadas por São Paulo. *Qod = quantidade de óleo no mercado doméstico. *Qoe = quantidade de óleo exportado por São Paulo. *Qtd = quantidade de torta no mercado doméstico, *Qte = quantidade de torta exportada por São Paulo; Qos = quantidade de óleos substitutos exportados por São Paulo; Qgd = produção de carnes a partir de gado bovino, suíno e aves confinadas, no mercado doméstico. Qgi = produção de carnes a partir de gado bovino, suíno e aves confinados, nos países e Estados importadores. Qld = produção de leite a partir de gado confinado e produção de ovos, no mercado doméstico. Qli = produção de leite a partir de gado confinado e produção de ovos, nos países e Estados importadores. QGi = produção de grãos alimentícios nos países e Estados importadores de torta de algodão. *Qcd = quantidade de caroço no mercado doméstico. Qce = quantidade de caroço esmagado em São Paulo. *Pfd = preço real de fibras no mercado doméstico. Pfi = preço real de fibras no mercado internacional. Ps = índice real de preços de sintéticos. R = renda real ?per capita? do Estado de São Paulo. U = urbanização em São Paulo. *Po = preço real de óleo de algodão. Poi = preço real de óleo de algodão no mercado internacional. Pos= índice de preços de óleos substitutos. Pta = preço real de torta de algodão. Ptai = preço real de torta de algodão no mercado internacional. Pts = índice real de preços de tortas substitutas. *Y = produção de algodão em caroço no Estado de São Paulo. Ad = área plantada da cultura no Estado de São Paulo. Ad = área plantada defasada de um período. Rd = rendimento por área em São Paulo. Palc= preço real do algodão em caroço. Pal = preço real do algodão em caroço, defasado de um período. Pa = índice real de preços de produtos alternativos na produção, defasado de um período. Ipf = índice real de preços de fatores de produção. Ifc = índice de fatores climáticos. p = porcentagem do caroço no algodão em caroço. rdf = rendimento na extração da fibra. rdo = rendimento na extração de óleo. rdt = rendimento na extração de torta. Pmg = índice real de preço de atacado de manteiga e gorduras. IR = índice de renda real ?per capita? dos países e Estados importadores. V = custos de produção de torta, óleo e fibra. t = tendência. * = variáveis endógenas. Quanto à análise do mercado à luz do modelo da Teia de Aranha, para a soja e o amendoim, concluiu-se que uma vez satisfeita a condição básica de estabilidade do sistema, o mercado para os dois produtos pode ser considerado estável. Finalmente, deve-s e ressaltar ainda, que a principal limitação da pesquisa refere-se ao uso de dados de consumo pouco adequados, devido a não disponibilidade de outras informações mais representativas. O fato de se admitir que a quantidade consumida corresponde à produção do Estado, pode levar a estimativas viesadas dos parâmetros da regressão.