Prática médica e imigração: o caso dos refugiados sírios na cidade de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Aguiar, Marcia Ernani de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-28092021-095954/
Resumo: A Migração Internacional é atualmente considerada um grande desafio global. No final de 2019, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, 79,5 milhões de pessoas se encontravam em situação de deslocamento forçado em todo o mundo. Entre estes, havia 26,0 milhões de refugiados, sendo 6,6 milhões deles provenientes da República Árabe Síria. Este país encontra-se em guerra civil desde 2011, vivendo a maior crise humanitária mundial. O Brasil está longe de ser o principal destino dos refugiados sírios, porém estes constituem o principal grupo presente no país, instalados sobretudo na cidade de São Paulo. O tema da saúde dos refugiados é uma questão bastante relevante, sendo a Atenção Primária à Saúde uma estratégia e um lugar privilegiado para o cuidado da saúde destas pessoas. Ao alcançarem as cidades de países, em sua grande maioria, em desenvolvimento, se deparam com realidades diversas sob vários aspectos, desde culturais até com relação ao modo como se organiza o sistema de saúde local, e sobretudo a qual cardápio de serviços poderá ter acesso. Para os serviços de Atenção Primária, também é um grande desafio atender as demandas e necessidades de saúde desses usuários, exigindo plasticidade, e sobretudo do médico, o desenvolvimento de competência cultural. No caso do Brasil, a Estratégia da Saúde da Família é o principal dispositivo reorganizador do modelo tecnoassistencial no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a interação entre os refugiados sírios e uma unidade básica de saúde que funciona sob a lógica da Estratégia Saúde da Família, localizada na região central da cidade de São Paulo. Em especial, interessa-nos analisar a percepção dos médicos das Equipes de Saúde da Família e desses usuários, a partir de suas demandas e necessidades de saúde. Trata-se de uma pesquisa de referencial qualitativo, que utilizou a técnica de entrevistas semiestruturadas com refugiados sírios e médicos. Para a análise das entrevistas, utilizou-se a técnica de análise temática de conteúdo, considerando as conjunturas, as razões e as lógicas, bem como as ações e as inter-relações estabelecidas com o coletivo e as instituições. Os resultados exibem as particularidades da relação deste grupo de refugiados com o sistema de saúde, em especial com a Atenção Primária à Saúde. Podemos reconhecer a permanência das dificuldades comunicacionais, e tentativas de solucioná-las. Os impactos sobre a saúde desses indivíduos decorrentes da exposição à precariedade das condições de trabalho, podem ser identificadas. A saúde mental dos refugiados sírios é desafiada em todos os momentos do processo migratório, que tem ponto de partida, porém o destino é incerto. Este tensionamento se expressa em manifestações clínicas, mas também em manifestações de resiliência. Durante o atendimento médico aos refugiados sírios identificamos demandas que tem suas raízes em racionalidades religiosas e culturas, e que exigem destes profissionais o desenvolvimento da capacidade de manejá-las sem juízo de valor, e a necessidade de articular-se com outros recursos existentes nas comunidades