A produção e a gestão do cuidado: notas cartográficas dos atos cuidadores do enfermeiro no cotidiano hospitalar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Fernandes, Marcia Simoni
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-30012007-180915/
Resumo: Este é um estudo situado dentro da abordagem qualitativa, que teve como intuito partir para uma ?viagem? nos territórios da gestão e do cuidado. Questionamentos circundaram o momento de escrita acerca da formação e do trabalho do enfermeiro no contexto hospitalar, tendo como pano de fundo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Questiona-se: no contexto hospitalar, o atos cuidadores do enfermeiro estão centrados nas demandas dos usuários, como um elemento articulador de saberes e práticas, tendo em vista as propostas de integralidade e humanização? O objetivo delineado foi cartografar os atos cuidadores do enfermeiro no contexto hospitalar, analisando as linhas postas em ação e as superfícies predominantes, com suas potências e resistências, para a produção da vida. Buscou-se tônus teórico às inquietações postas, com a construção um mapa conceitual que abordasse o cuidado, a gestão do cuidado e as implicações do hospital com a temática, sendo possível, lançar mão de uma trama conceitual, com destaque aqui para alguns conceitos pertencentes à esquizoanálise, à saúde coletiva e outros referentes a área da enfermagem. No segundo momento da construção do mapa, realizou-se a desnaturalização das práticas de cuidado, fazendo uso da Genealogia Foucaultiana, culminando com a criação de quatro configurações das práticas de cuidado, objetivando desbloquear o tempo histórico para que, através de uma problematização de objetos tidos, como evidentes, se pudesse ressignificar o presente. As estratégias de produção do conhecimento constituíram-se de dois momentos: a utilização da Genealogia Foucaultiana, que possibilitou parte da construção do mapa conceitual. No segundo momento, realizou-se uma cartografia dos atos cuidadores do enfermeiro no contexto hospitalar. Selecionou-se uma unidade de internação de um hospital filantrópico, que presta atendimento a usuários do SUS. Efetuaram 62 horas de observações focadas no trabalho dos enfermeiros nos turnos da manhã e da tarde, que foram registradas em um Diário de Bordo. Fragmentos do Diário foram postos ao lado de escritos teóricos, poemas, lembranças, dialogando com o mapa conceitual, fazendo-se uma espécie de bricolagem. No território das práticas, visualizou-se a formação de dois micro-territórios: Máquina Paranóia e Máquina Desejo. A Maquina Paranóia caracterizou-se por modos instituídos, capturados pelo tempo, pelas regras, rotinas com tendências castradoras e antiprodutivas, pelo trabalho fragmentado, que fragmenta o paciente e pela paranóia do não-saber-poder. Os atos cuidadores dos enfermeiros revelaram a produção de cuidado, cortada por linhas de segmentaridade dura e circulares, configurando-se, muitas vezes, em um descuidado, esfriando os corpos cuidados, transformando os pacientes em uma ?carga?, não possibilitando a construção de sua autonomia. Detectou-se que a gestão estava focada no procedimento, não sendo o usuário um marcador do cuidado. A Maquina Desejo revelou potências nos atos cuidadores, permeada pela escuta/acolhimento e pelas tentativas de transversalizar a equipe de saúde, sendo a gestão uma estratégia para a produção do cuidado, cortado por linhas de fuga. Condiserou-se a necessidade de os enfermeiros e docentes (re)pensarem conceitos, buscando um diálogo mais efetivo com as práticas cotidianas hospitalares, em prol do fortalecimento do SUS. Dessa forma, uma das estratégias visualizadas é a possibilidade de criação de espaços coletivos de análise e reflexões acerca do processo de trabalho em saúde e do modelo de gestão hospitalar. O ensino, por sua vez, necessita ser refletido, no que se refere a utilização de conceitos/ferramentas que produzam impacto no trabalho cotidiano do enfermeiro ante as demandas dos usuários, no aspecto individual e coletivo, da equipe de saúde e do próprio serviço de saúde, libertando-se da amarras que reforçam a hegemonia e a subserviência.