Gravidez: regressão e movimentos representacionais na perspectiva de Freud e Winnicott

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Silva, Gláucia Faria da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-06052009-074146/
Resumo: O que quer uma mulher... grávida? Para uma pergunta clássica, uma resposta também clássica: a saúde do bebê. Nesta pesquisa, a representação do corpo do feto foi referência para o exame dos mecanismos regressivos, presentes no discurso de três mulheres, nas últimas semanas de gestação. Foi realizada, com cada uma delas, uma entrevista semidirigida, e o discurso, analisado pelas balizas teóricas fornecidas pelas obras de Freud e Winnicott. Na gestação, à semelhança do estado de sono, parte das excitações psíquicas terá um caminho regrediente. Conceito mutável, de origem múltipla e com diversos pontos de chegada. Desde a Interpretação dos sonhos, Freud proporá inúmeras ordenações: regressão tópica, temporal, formal, da libido do ego versus libidinal, regressão ao narcisismo primário e à alucinação do desejo, regressão aos primeiros objetos versus a toda organização sexual e regressão do eu. Para Winnicott, o mecanismo refere-se à regressão do eu a estados de maior dependência e indiferenciação. A leitura de Soifer e Langer propiciou uma aproximação psicanalítica da experiência gestacional em seus aspectos fantasmáticos, regressivos e estruturantes, e o livro Obstetrícia psicossomática ampliou o campo, na perspectiva médica. Na Psicanálise, orientada pela leitura de Bleichmar, Schneider, Simanke e Gurfinkel, aspectos da obra de Winnicott e Freud ganharam maior relevo e originalidade. Nas leituras realizadas, o foco na representação do corpo do feto apontava para as fantasias gestacionais sobre o bebê que, por sua vez, remetiam a desejos emergentes da elaboração edipiana e ao horror do incesto. Um funcionamento psíquico especial deve estar em ação para que desejos tão primitivos sejam evocados. Nesta configuração especial, a característica discursiva, descrita por Schneider como fala catártica, conjugava a intensidade à convocação de um experimentar com, presente no desdobramento da vontade insaciável de ver o bebê: ver, ver-se, vê-lo, ser vista, ver e não enxergar, não ver, ver a gente... Necessidade universal que parece fazer referência ao gradativo esfumaçamento das fronteiras entre fantasia e realidade. Assim, a preocupação com a saúde, capaz de centrifugar a atenção de uma mulher, parece surgir onde a imaginação, sobrecarregada de imagens e afetos, desiste. Entre o ideal e o real invisível resta, portanto, a saúde, esta abertura, este hiato pleno de sonhos e temores, constituintes de um espaço que sustenta, sob tensão, desejo e mistério. Entre conflitos exuberantes, que envolveram a representação do corpo do feto, a regressão temida pelos obstetras fonte de desorganização do ego mostrou-se fonte de transformação. Quando o psiquismo se volta para suas bases, reencontra um momento de profunda criação. Ao postular a regressão como origem da figurabilidade, Freud apresenta seu aspecto criativo, construtivo. Em Winnicott, a criatividade está na possibilidade de retorno ao estado de não-integração primária que, segundo Gurfinkel, é o precursor do conceito de Informe.